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Fui ao Cinema... E não comi pipocas!

As aventuras e desventuras de uma miúda que se alimenta de histórias cinematográficas.

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As aventuras e desventuras de uma miúda que se alimenta de histórias cinematográficas.

ZOOM IN: Porque é que é dos vilões que gostamos mais?

25.08.16 | Maria Juana

Eles são maus. Eles fazem tropelias. Assassinam, roubam, criam o caos em todo o lado… São as pessoas que queremos evitar na nossa cidade, país, vida. No entanto, são os vilões que ficam na nossa memória quando acabamos de ver um filme.

 

Ou não me queiram dizer que, depois de assistir a O Silêncio dos Inocentes, ficaram horas a conversar sobre a nobreza da Clarice Starling? Não: foram dias e anos a tentar perceber a mente por detrás de Hannibal Lecter, a elogiar a dureza de Anthony Hopkins, e a querer saber sempre mais e mais e mais sobre aquela personagem.

 

Ele deixou-nos fascinados. E quem diz Lecter, diz tantos outros vilões e mauzões que têm surgido no cinema nas últimas décadas.

 

 

 

Ficamos presos nas suas personalidades. A grande parte dos vilões tem sempre um semblante pouco sério, não quer saber dos outros e mostra confiança em tudo o que faz. Quem de nós, nas nossas vidas diárias, não gostava de poder apregoar bem alto, “eu estimo bem, é que te f*das”? Eles fazem-no e, mesmo com impropérios, com uma classe e elegância que lhes é muito própria.

 

Grandes mestres que estudam a mentalidade humana têm tentado explicar o nosso fascínio pelo vilão, pelo “lado menos bom” do ser humano. Sigmund Freud foi um deles. Para o psicanalista, todos nós somos antissociais e, no fundo, queremos ser maus. No entanto, somos limitados pelos arrais da sociedade, que nos obrigam a esconder a nossa natureza. É por isso que desenvolvemos um ego (o autocontrolo) e o superego (a consciência). São eles que nos guiam, que nos mostram o que é certo e errado.

 

Freud não foi o único a acreditar que na verdade #somostodosviloes. Existem teorias que afirmam que todos temos um psicopata dentro de nós, e somos nós, indivíduos, que temos de aprender a não deixá-lo sair.

 

Será então que encontramos neles a personificação daquilo que gostaríamos de ter coragem para fazer?

 

Talvez. Ou talvez gostamos deles porque enobrecem os heróis. Afinal, eles vêm aos pares. O Super-Homem não seria super se não tivesse de derrotar o General Zod. Luke Skywalker perderia interesse se não tivesse de derrotar o próprio pai, um dos mais poderosos Jedi de sempre. Se Sauron não quisesse o anel, o Frodo seria apenas mais um hobbit do Shire. Por muito fantásticos que todos eles sejam, precisam de um vilão que lhes dê aquele impulso para, como é norma, fazer a coisa certa.

 

 

Em Suicide Squad, por exemplo, a situação inverte-se: eles são maus, contratados para “fazer o bem” (e não morrer pelo caminho). Aí, não existem heróis que nos façam querer que sejam enobrecidos. O que queremos saber é se, na verdade, os maus também têm um pingo de bondade em si.

 

Eu tenho a minha opinião: gostamos deles porque não os compreendemos. Até podemos perceber que o Batman queira vingar os pais, mas porque é que o Joker tem de criar tanto caos? Como é que alguém consegue pensar em tantas tropelias para fazer, só porque sim?

 

Seja porque temos um superego demasiado desenvolvido, ou porque nos foi ensinado ou porque é, afinal de contas, o que vemos nos filmes, a “bondade” é a norma. O que queremos saber é por que é que há sempre alguém não pensa assim. Gostamos das personagens com personalidades diferentes das nossas, que nos façam questionar os seus e os nossos valores.

 

Os vilões fazem-nos sentir melhor. Eles são a razão que nos mostra que sim, ser bom é uma escolha. O fenómeno Suicide Squad acompanhou bem essa realidade: a Harley Quinn enlouqueceu por amor, o Deadshot só queria uma boa vida para a filha.

 

O que nos continua a puxar para os vilões é tentativa de humanizar aquilo que achamos que não pode ser humanizado. As suas auras negras e personalidades distantes são totalmente o oposto do que consideramos normal… e, ao mesmo tempo, tão cativantes.

 

E isso é uma coisa má? Não sei, mas continuo a preferir um bom Alex, como em A Laranja Mecânica, para dar sumo às histórias. É por isso que gostamos tanto dos vilões: sem eles, as histórias não teriam graça.

 

Ninguém gosta de uma história sem graça.

 

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