ZOOM IN: Porque é que alguns filmes só estreiam daqui a 5 anos?
Já perceberam que a Marvel tem confirmadas as estreias de filmes até 2021? E que a Disney já anunciou que alguns dos seus filmes estreiam algures em 2018 e 2019?
É uma nova tendência entre os grandes estúdios: marcar nas agendas o lançamento de filmes muito importantes com anos de antecedência, para que mais ninguém se ponha à frente da sua grande estreia!
Não, nem sempre foi assim. Em tempos antigos (que é como quem diz, há uns anos, não muitos), os filmes eram filmados, editados e os títulos escolhidos, e só depois era agendado o lançamento. Era escolhida a data, tendo com conta os objetivos de cada estúdio - o timing sempre existiu, ou acham estranho que próximo do Dia dos Namorados estreiem sempre mais comédias românticas?
Não é por acaso. Existem fins de semana de abertura que, estatisticamente, estão comprovados que geram mais receita de bilheteira em alguns géneros. Outros momentos do ano podem funcionar com qualquer título, independentemente do género.
O que acontece atualmente é que as próprias produções mudaram. As datas são escolhidas para filmes que ainda nem sequer têm nome, mas as produções são também muito mais demoradas e caras. Um grande blockbuster consegue facilmente custar perto dos 200 milhões de dólares, e sendo o Cinema um negócio, é natural que os estúdios queiram recuperar esse investimento.
Escolher uma data de estreia com antecedência é uma das formas de o fazer.
Brie Larson vai ser a estrela de Captain Marvel, com estreia marcada para 8 de março de 2019!
Adeus, concorrência
Todos nós já passámos por isso: temos três filmes que queremos mesmo ver a estrear no mesmo dia. A carteira não estica, por isso acabamos por ver apenas um deles na sala, e esperamos que seja exibido na TV (cof cof) para assistir aos restantes.
Para quem faz um investimento de milhões, isto não é bom. Apesar de não estar provado se a estreia de grandes filmes ao mesmo tempo influencia os resultados nas bilheteiras, a verdade é que nenhum estúdio quer correr esse risco, e prefere a “exclusividade.”
O que optam então por fazer é avisar a concorrência. Dizem alto e bom som que aquele fim-de-semana é seu, e que não vale a pena estrearem outros grandes títulos naquela altura, porque vão perder audiência.
E quem perde audiência, perde bilhetes vendidos, e perde retorno de investimento.
O esforço do Marketing
Saber de antemão quando é que os filmes vão estrear dá outra vantagem aos grandes estúdios: conseguem planear com tempo e cabeça as estratégias de marketing que vão permitir dar a conhecer cada um dos seus filmes.
O marketing tem desempenhado um papel cada vez mais importante durante o lançamento de um filme de grande orçamento - ou melhor, de qualquer orçamento. Depois da vitória de Deadpool, que foi um sucesso mesmo com um orçamento mais diminuto, muitos lhe viram o exemplo: uma boa estratégia pode levar mais público às salas.
Toy Story 4 vai estrear em 2019, e Os Incríveis 2 em 2018.
Já imaginaram o que é ter anos para conseguir planear um lançamento? Amigos, enquanto “pseudo” conhecedora do que é trabalhar em marketing, digo-vos que é uma benção. Mesmo que mudem os hábitos ou as culturas, existem sempre algumas questões que podem ficar logo delineadas.
Para alguém que quer recuperar um investimento de 200 milhões de dólares… Sim, é uma boa ideia.
E os prémios?
Mas nem sempre as datas de estreia são apenas influenciadas pelos retornos dos grandes estúdios. Apesar de essa ser a grande tendência (agendar com anos de antecedências as datas de estreia), outros filmes estreiam em alturas específicas para ficarem na memória.
Não só na minha memória, ou na memória daqueles que o veem; mas na memória dos jurados e membros das academias com poder para entregar prémios.
Alguma vez se perguntaram porque é que a maioria dos filmes nomeados para os Óscares só estreiam em Portugal lá para a fevereiro - tanto que, às vezes, nem os conseguimos ver nas salas? Porque estrearam nos Estados Unidos mesmo mesmo no final do ano.
Martin Scorsese fez isso mesmo com Silêncio, o seu novo filme. Quis que estreasse mesmo no final de 2016 para ainda ser considerado nos prémios de 2017. Muitos estúdios preferem lançar os filmes mais para o final do ano também com esse propósito - ficam mais facilmente na memória dos jurados.
Se alguma coisa disto é verdade? Não há nenhum estudo que o comprove, mas todos os que tentaram perceber a questão tiraram as mesmas conclusões, incluindo eu. A verdade é que a escolha da data de estreia de um filme sempre teve a ver com timing, com lucros e com datas que possam ser mais ou menos vantajosas.
O negócio tornou-se tão mais lucrativo nos últimos anos, que todos os pormenores contam. E as datas são um desses pormenores. Nada é deixado ao acaso…