ZOOM-IN: O realizador mudou. E agora?
Sempre que são anunciados novos filmes, agumas questões são colocadas: quem será o protagonista? Quem irá escrever o argumento? Quem irá realizar o filme?
A escolha de perguntas não é aleatória – nem o é o facto de darmos mais importância ao prémio de Melhor Realizador, do que de Melhor Guarda-Roupa. Apesar do gaurda-roupa ser extremamente importante para que uma cena faça sentido, o realizador tem um papel prepodenderante em todo o ambiente do filme.
Ele está presente (ou devia estar) em todas as fases do filme, e é dele que chegam as indicações de que esta cena tem de ser assim, e aquela de outra forma. No fundo, ele é um gestor de projeto que tem uma visão artística muito aguçada.
Então, o que acontece quando este papel tão importante é mudado durante a produção de um filme?
A pergunta não é de agora, mas tem ganho mais relevância depois de descobrirmos que Phil Lord e Christopher Miller foram afastados da produção do filme sobre Han Solo, e substituídos por Ron Howard. O que será que vai acontecer agora?
A dupla de realizadores realizou Agentes Secundários e a sua sequela, e Lego Movie.
Vamos por partes.
O papel do realizador
Como disse antes, o realizador é um dos responsáveis pela visão artística de um filme. No fundo, o que ele faz é visualizar o argumento, e escolher de que forma é que cada cena será filmada, e a intensidade que tem de ser dada, ou retirada, de cada momento.
Durante as fases de pré-produção, produção, e pós-produção de um filme, é ele que vai coordenando as várias equipas para ter a certeza que o seu trabalho está de acordo com a sua visualização. Ele pega no trabalho de todos e junta para que faça sentido para a história, e para a sua visão.
É por isso que conseguimos identificar algumas características de cada realizador nos seus filmes. Por exemplo, se se recordam do artigo sobre Christopher Nolan, notaram que falámos sobre a forma como ele gosta de concentrar a ação na perspetiva das personagens, e não apenas filmá-las como parte do cenário.
Escolher um realizador em detrimento de outro pode ditar o ambiente do filme. Alguns (como aparentemente foi o caso de Lord e Miller) têm tendência para tornar muito mais cómico, outros preferem dar mais destaque aos cenários, outros às personagens, outros aos diálogos.
Quando os realizadores começam a ganhar destaque no mundo do cinema, é natural que fiquem conhecidos por um determinado tipo de estilo. A sua escolha para cada filme passa a ter em conta esse estilo, e os fãs conseguem quase sentir o rumo da história consoante quem é escolhido.
O que torna tudo muito mais difícil quando a escolha não foi a acertada.
Ele foi despedido. E agora?
As mudanças de realizador a meio de uma produção não são incomuns. Muito pelo contrário: se em alguns casos não há dúvida de que uma história pede um determinado estilo, noutros os conflitos com a produção (que têm sempre um papel a dizer) podem ditar o fim de uma relação. Até Spartacus, o clássico protagonizado por Kurt Douglas, sofreu uma dessas mudanças.
É natural que, quando muda o realizador, o rumo da produção também mude. Um novo realizador significa um novo estilo de levar avante a produção, um novo estilo de filmar e coordenar equipas. Um novo realizador pode também significar uma nova perspetiva sobre a história, e nunca sabemos quão diferente será.
Se é uma grande mudança ou não, isso pode depender da fase em que é feita a mudança. Por exemplo, quando Homem-Formiga ainda era apenas um projeto falado, Edgar Wright foi o realizador escolhido, e muitos fãs regozijaram com isso. Porém, ainda antes de começar a produção, Wright afastou-se do projeto e foi Peyton Reed a dirigir o filme de 2015.
Neste caso, como a produção ainda estava a começar, o filme não sofreu em nada – só nós, que nos questionamos como seria se Wright tivesse mesmo avançado.
Porém, existem situações em que o realizador muda quando já existem cenas filmadas e um argumento final. É aí, meus caros, que tudo pode correr mal.
O caso Han Solo
Foi o que aconteceu com o filme sobre a juventude de Han Solo. No início do mês, os realizadores Phil Lord e Christopher Miller decidiram afastar-se do filme devido a diferenças criativas com os produtores. Os produtores, se bem que mais conhecidos por serem quem tem o dinheiro, podem acabar com um filme se acham que não está a ir ao encontro do que esperam. Neste caso, estavam com receio que a dupla estivesse a tornar o filme demasiado humorístico.
Esta decisão foi tomada quatro meses depois da produção ter começado, com argumento escrito, elenco reunido e até algumas cenas filmadas.
Pouco tempo depois, Ron Howard foi anunciado como novo realizador do spin-off de Guerra das Estrelas. Mas... como assim, Ron Howard? Estamos a falar do Ron Howard O Diário de DaVinci, Apollo 13, e No Coração do Mar? No Ron Howard que quase não faz um filme sem Tom Hanks?
Ron Howard foi um conhecido ator antes de se dedicar à realização.
Sim, esse Ron Howard, o que lançou algumas questões. Ao contrário da dupla Lord/Miller, Ron Howard tem um estilo muito pouco movimentado e dinâmico. De facto, Howard é conhecido por ter um estilo mais simples, e talvez menos excitante, o que assustou alguns fãs.
Pessoalmente, não acho que vá tornar o filme muito melhor, ou pior. Howard tem um longo e duro trabalho pela frente: terá de pegar naquilo que já existe, e utilizá-lo sem perder o rumo que acha correto para a história. O facto de este ser um filme no qual todos temos grandes expectativas pode dificultar a tarefa, mas o seu envolvimento com o universo de Guerra das Estrelas pode ser mais benéfico do que aquilo que julgamos.
Woody Harrelson, que vai interpretar o mentor de Solo, já veio afirmar que não há motivos para preocupação. Eu vou acreditar nele, porque é impossível não acreditar num homem que já fez de assassino louco em Natural Born Killers.
No fundo, é esperar para ver. Apesar dos exemplos anteriores não abonarem a seu favor, eu quero acreditar que Howard será uma boa adição ao filme. Em 2018 cá estaremos para recebê~lo.