Um Crime no Expresso do Oriente (2017) – Quem matou o Johnny Depp?
Sinopse: Kenneth Branagh traz de volta ao grande ecrã uma das histórias mais conhecidas de Agatha Christie. Nela, o famoso detetive Hercule Poirot (interpretado pelo realizador) vê-se preso num comboio com 12 possíveis assassinos, depois de ter sido encontrado o corpo de Edward Ratchett (Johnny Depp) no seu compartimento. Poirot tem de pôr à prova todas as suas capacidades para desvendar mais um crime misterioso.
Há muitos anos, lembro-me de ler Um Crime no Expresso do Oriente. Apesar de nunca ter sido a maior fã de Agatha Christie, é impossível não gostar das suas histórias. O melhor de tudo é que não me lembrava do final ou até dos pormenores mais interessantes da história, o que me fez conseguir ver esta nova adaptação como se não conhecesse nada.
Porque, tal como em todos os filmes de mistério, o que é interessante é percebermos como é que o detetive consegue tirar todas as suas conclusões. O resultado, apesar de querido e muito expectante, é apenas um pormenor.
Um Crime no Expresso do Oriente já teve a sua quota parte de adaptações. É possivelmente a história mais conhecida de Poirot, e o que Branagh tentou fazer foi dar-lhe um ar mais cinematográfico e, de certa forma, moderno.
Mas escolheu fazer a adaptação com uma história que, por si, já é limitada.
Como disse, não me lembro muito bem do livro e não sou a maior conhecedora das obras de Christie. Porém, acho que o mistério de Um Crime no Expresso do Oriente não é dos mais interessantes ou que nos deixem de boca aberta com as revelações. De facto, fui ver o filme com alguém que conhece e lê Christie com regularidade e partilha desta opinião.
Michelle Pfeiffer tem uma das interpretações mais interessantes da trama.
Que vale o que vale. Mesmo assim, acho que Branagh teve de trabalhar com essa limitação. O que fez com que, em alguns momentos do filme, as revelações e conclusões a que Poirot chega se tenham tornado muito rápidas; mal percebemos como é que conseguiu lá chegar.
Independentemente disso, conseguiu criar uma atmosfera e ambientes extraordinários.
Primeiro, concentrou muito da ação na figura de Poirot, nos seus ideais e opiniões. Aliás, acho que é exatamente as várias lutas internas que o protagonista vive a melhor coisa desta história, e não tanto a sua conclusão.
Nesse aspeto, Branagh e Michael Green (o argumentista) acertaram em cheio. A história está equilibrada, com um bom ritmo, e passamos um ótimo tempo a assistir ao filme – mesmo quando parece muito longo. As revelações surgem no momento certo, mas nunca recebem muito protagonismo, o que pode ser bom para criar a aura de suspense.
Só que aquilo que nos desperta a maior atenção é mesmo todo o cenário e ambientes criados.
O facto de Branagh estar tão ligado ao teatro faz com que tenha uma visão de direção muito peculiar. Ele torna-nos espectadores num palco, com câmaras estáticas e planos que nos direcionam o olhar.
Além disso, o facto de colocar a câmara tão próxima dos atores e pormenores só torna o ambiente do comboio mais claustrofóbico e misterioso – e tudo muito próprio da visão do realizador.
Branagh leva-nos numa experiência – tal como levou os atores. O filme foi praticamente todo filmado dentro do comboio, por isso dificilmente teríamos uma perspetiva mais real. É tudo pensado ao pormenor, o que torna a visualização do filme muito mais interessante e intensa.
Um Crime no Expresso do Oriente não é um filme fantástico, mas tem uma cinematografia e atores fantásticos. Se as paisagens e as cores dão ao filme um visual extraordinário, os atores conferem a cada personagem o toque de mistério e inocência culpada que precisamos para ficar ainda mais interrogativos.
Só podemos dizer que é uma experiência de visualização fantástica. Apesar da história não ser das melhores, e da adaptação tentar ser o mais fiel possível, é um belíssimo filme com aquilo com que pode trabalhar.
E aquele bigode de Poirot? Tal como toda a construção da personagem, vale por isso!
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