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Fui ao Cinema... E não comi pipocas!

As aventuras e desventuras de uma miúda que se alimenta de histórias cinematográficas.

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#TBT: American Psycho, o olá a Christian Bale

07.05.20 | Maria Juana

Corria o mês de abril de 2000. O mundo ainda não tinha acabado, por muito que tivéssemos tudo medo há alguns meses atrás.  O euro estava quase a chegar às nossas carteiras e nas rádios ainda se ouvia Backstreet Boys e Spice Girls. Nesse mesmo mês, chega um filme cujo género é difícil de decifrar… É drama, é horror, é gore, mas tem um lado cómico e um protagonista que faz o filme.

Chama-se American Psycho e é o nosso TBT de abril.

 

 

Há 20 anos atrás, Christian Bale ainda não era o ator de renome que hoje nos delicia. Na verdade,  American Psycho é capaz de ter sido o seu primeiro grande papel de protagonista e só de pensar que foi quase para Leonardo DiCaprio quase que me dá a volta ao estômago - não por achaque DiCaprio não tivesse capacidade para interpretar o psicopata Patrick Bateman, mas porque é difícil pensar nesta papel sem o perfil, voz e postura de Bale.

Patrick Bateman é o nosso psicopata americano. Trabalha em Wall Street, trata do corpo metodicamente, atrai mulheres e homens (se bem que prefere apenas as primeiras) e, vai-se lá saber porquê, gosta de matar pessoas. Primeiro apenas porque sim, depois de forma desenfreada, quando o seu instinto e reflexo o fazem deixar de ter qualquer tipo de filtro.

É aquele semblante de Bale, a sua presença, que dão a Bateman (e a todo o filme, na verdade) o lado mais apelativo e sensato. Quando American Psycho foi lançado, e mesmo ainda hoje, não houve consenso de opiniões sobre o filme. Enquanto alguns gostaram de como é feita a descrição do mundo de Bateman e dos seus instintos, num argumento que roça o horror, outros consideraram que ficou aquém do material original (o livro com mesmo nome de Bret Easton Ellis) e que tudo se torna um pouco confuso. Mesmo atualmente, se há filmes que vemos passados 20 anos passados do seu lançamento e continuam a fazer sentido, American Psycho parece sempre muito virado para si para conseguir envelhecer com classe.

A responsabilidade cai no seu argumento. Escrito por Guinevere Turner e Mary Harron (que também realizou), falta alguma consistência a uma história que, apesar de se querer sem emoção, por vezes se torna enfadonha. A falta de emotividade de Bateman está totalmente estabelecida ao longo de todo o enredo, mas parte mais da interpretação de Bateman e dos monólogos interiores e metodotismo da sua personagem, do que propriamente da sua história; são pedaços apenas do enredo que nos levam a imaginar que a emoção não existe. Aquela que podia ser quase uma experiência sociológica sobre os limites e perceção da pessoa humana, torna-se rapidamente numa espiral de acontecimentos que parecem não ter lógica ou ligação entre si. Quando Bateman entra ele próprio numa espiral decadente, o que a desencadeia? O que nos leva do ponto A ao ponto B, da calma ao desespero?

Não sabemos e, apesar de nem sempre sem necessário esse caminho, neste caso torna-se essencial para compreendermos também a natureza do protagonista e da própria argumentação feita. Ainda por cima, chegamos a uma altura em que a música é a única coisa que parece fazer algum sentido e dar força a cenas que ficaram parados no tempo.

Mas American Psycho não deixa de ser um testemunho com 20 anos do que o Cinema tinha para chegar no início do milénio. Não foi, de todo, um percursor de um género ou uma peça que faz parte dos 20 melhores filmes do milénio, sobretudo porque encontramos demasiados momentos em que não faz sentido ir por um caminho ou para o outro.

É, ainda assim, um momento que tem o seu lugar na história e merece algum respeito. Não apenas porque nos deu a conhecer uma parte do potencial de Christian Bale (que hoje sabemos ter um potencial fora do vulgar, mas que na altura estava apenas a desabrochar), como demonstra uma necessidade e vontade de elevar a voz feminina. É que American Psycho foi escrito e realizado por mulheres, para contar a história de um homem que gostava de as matar. Foi feito sem receio das consequências, apenas pela vontade de contar uma história diferente com uma perspetiva diferente. Não foram as primeiras, mas foram parte deste caminho que ainda hoje não está totalmente percorrido.

E isso deve ser sempre celebrado.

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