Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Fui ao Cinema... E não comi pipocas!

As aventuras e desventuras de uma miúda que se alimenta de histórias cinematográficas.

Fui ao Cinema... E não comi pipocas!

As aventuras e desventuras de uma miúda que se alimenta de histórias cinematográficas.

Sobre The Revenant: O Renascido (2015)

24.01.16 | Maria Juana

Sinopse: ​Hugh Glass (Leonardo DiCaprio) é um guia de uma expedição de caça às peles em pleno século XVIII. Depois de ser atacado por um urso, o capitão (Domhnall Gleeson) decide deixar dois dos seus homens para o protegerem até morrer. Mas quando o abandonam e partem, não estavam à espera de o voltar a ver.

 

O Renascido é uma história de sobrevivência humana. É sobre como o corpo e a mente podem ajudar-se a renascer quando nada mais parece resultar; quando temos uma motivação tão forte, que conseguimos levantar a pedra mais pesada que encontrarmos no caminho. Ou, neste caso, matar um urso.

 

Embora vários dos factos de O Renascido sejam obra de ficção, a existência real de Hugh Glass não foi inventada por Mark Smith e Alejandro Iñárritu (os argumentistas do filme). O senhor existiu, e há relatos que o colocam mesmo frente a frente à morte, sobrevivendo inexplicavelmente.

 

Inexplicavelmente, porque o inverno gelado do Missouri não dava grandes chances de sucesso a quem por ele adentro se aventurava - e conseguimos perceber isso tão bem como se lá estivéssemos, graças ao ambiente criado por Iñarritu. Filmado apenas com recurso a luz natural, o realizador mexicano transporta-nos para o centro da acção, seja pelo movimento das suas câmaras, seja pelas paisagens e estações que faz questão de mostrar.

Aliás, é o seu ambiente que faz este filme uma verdadeira obra cinematográfica, mais do que a sua história. Poucos são os profissionais que nos levam a este tipo de encadeamento na ação, em que todos os planos estão bem estudados para que não haja dúvidas: sim, vocês também estão ali. Por isso, e mesmo estando confortavelmente sentados numa sala de cinema, sentimo-nos pequenos desde o primeiro minuto, porque também nós somos Glass; vemos o que ele vê, sentimos o que ele sente ao longo das três horas de filme, que quase ansiávamos ser bem menos.

 

Mas esse é o propósito. Temos de ficar cansados, saturados daquele frio e privações; mas temos de querer chegar ao fim, ansiar o final e ficar agraciados quando chega, seja ele qual for. E é toda esta construção e ambiente que fazem O Renascido valer a pena. É frio, é cru, é calculista; é tudo o que nos mostra, e tudo o que nos faz querer afastar o olhar, enojados.

 

É inevitável não nos sentirmos próximos da ação quando a própria câmara está em cima dela - da mesma forma que não nos conseguimos distanciar porque nunca existe um momento de silêncio: há sempre um crepitar de lareira, um pássaro a chilrear ou o vento a cantar.

Por essa razão, é impossível não apreciar boas interpretações quando chegamos assim tão perto delas, e é por essa razão que Leonardo DiCaprio não mereceu as suas nomeações em vão. Ele mostra-nos que ser ator não é apenas chegar ao cenário com roupas de época, e recitar uma data de linhas que se memorizou de um guião; é conseguir transmitir uma mensagem poderosa sem sequer usar palavras. Ainda foi mais longe, e quase sofreu o mesmo que o seu personagem, não se poupando a esforços para criar a aura de realismo que queremos e precisamos ver.

 

O que não significa que tenha feito tudo sozinho: Tom Hardy faz um belíssimo trabalho, sempre distante, sempre tão frio quanto a neve.

 

As provações de ambos colmatam numa cena final que, arrisco-me a dizer, é das mais épicas que vi nos últimos tempos. Não porque não estávamos à espera que acabasse assim, ou porque o herói tem a merecida vitória, mas sim porque terminamos da mesma forma que começámos: olhamos a Morte nos olhos e pensamos em tudo o que aconteceu; refletimos e esperamos pelo próximo passo, sem sabermos se vai existir.

 

Por tudo quanto vale, O Renascido merece ser visto pelo menos uma vez. Alegrou-me sair da sala de cinema sabendo que estava cheia de gente que, de facto, quis assistir ao filme (se saíram arrependidos ou não, isso é outra conversa). Confesso que não me arrebatou como estava à espera, nem me fez sentir extasiada. Saí leve, certa que tinha assistido a uma bela obra do Cinema, e que dificilmente verei outra assim. Mas basta uma vez para sentirmos a sua crueldade e violência.

 

O ser humano é cruel e violento, bem como muitas das situações a que se propõe ou que lhe aparecem no caminho. E a única coisa que O Renascido nos mostra, é que conseguimos ir para além do que somos quando não temos nada a perder; quando temos apenas a nossa vontade para nos levar ao próximo passo.

 

De ​0 ​a ​O Leonardo DiCaprio é o melhor de sempre​: leva um ​O Leonardo DiCaprio merece porque já é hora.

1 comentário

Comentar post