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Fui ao Cinema... E não comi pipocas!

As aventuras e desventuras de uma miúda que se alimenta de histórias cinematográficas.

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Se The Crown não é das melhores séries que já vi, não sei o que é

22.11.19 | Maria Juana

Recebi hoje uma mensagem com esta frase. Na verdade, dizia ‘Se esta não é das melhores séries que a Netflix já fez, não sei o que é’, mas eu abro um pouco mais o espectro porque acredito piamente naquele título. Deixando de lado gostos pessoais, temas preferidos ou géneros que nos prendem no lugar, não é possível ficar indiferente à produção de The Crown e digo-o sem qualquer receio de julgamento.

Dois anos depois da segunda temporada, The Crown regressou este domingo à Netflix com novos episódios, mas também com um novo elenco. Mantendo a promessa partilhada no início da produção, Peter Morgan (criador da série) “trocou” os atores por outros que estejam mais próximos das idades que as personagens teriam entre 1964 e 1977, o intervalo em que se passa esta nova temporada.

Se bem que o elenco é novo, regressam os dramas e dilemas da família Real britânica, numa série que nos tem contado a história que conhecemos das revistas, filmes e noticiários, mas também o que acontece nos seus bastidores.

Tony Armstrong (Ben Daniels), a Rainha Mãe (Marion Bailey), Princesa Margaret (Helena Bonham-Carter), Rainha Elizabeth (Olicia Colman), Duque de Edimburgo (Tobias Menzies), Princessa Anne (Erin Doherty) e Loorde Mountbatten (Charles Dance)

Foram dois anos complicados, confesso. Comecei a ver The Crown já quando as duas primeiras temporadas estavam cá fora e foi um binge intenso, porque é fácil ficarmos presos nas artimanhas e teias por onde a história dos leva. Apesar de ser um claro drama histórico, é também um romance com laivos de comédia, como qualquer filme que conta as histórias e peripécias de uma família. Acontece apenas que esta é uma família Real.

A série concentra-se naturalmente na figura de Elizabeth, a Rainha que o foi cedo de mais e sem na verdade ter nascido para o papel. É a monarca que mais anos se sentou no trono e aquela que hoje pensamos quando a Monarquia nos vem à cabeça. Certamente, quem a interpreta tem de ter algo do seu carácter.

Que neste caso estava tão bem personificado em Claire Foy (e Matt Smith, no caso do Principe de Edimburgo) que saber que teríamos uma nova rainha na terceira e quarta temporadas me fez saltar o coração. Foi Foy quem me prendeu, quem me deu esta nova imagem e realidade sobre a Rainha. E agora, o que vou fazer com outra atriz?

A transição entre atores, que se esperava algo estranha, foi muito mais subtil do que poderia ser esperado. Não é usual que numa série de vária temporadas o elenco mude de tal forma; existem casos pontuais de saídas ou substituições forçadas, mas aqui estamos a falar de todo um elenco que foi substituído. Havia uma pressão maior sobre este elenco, que de alguma forma teria de dar continuação às sensações que os seus colegas anteriores tinham iniciado, mas ainda assim continuamos com a ideia concreta que se tratam das mesmas pessoas, só que diferentes e mais velhas…

Olivia Colman é naturalmente um destaque por si só, não apenas por ser a Rainha mas essencialmente porque personifica esta continuação sendo um espelho de alguns dos trejeitos que já estávamos habituados, sem deixar de ter a sua alma e cunho pessoal. Mas a verdade é que faz tanto sentido esta mudança que damos por nós a pensar ‘Uau, como foi a segunda temporada, mesmo?’

A produção foi criticada porque Helena Bonham-Carter não é tão parecida com Margaret quando Vanessa Kirby, das primeiras temporadas, mas a sua interpretação tira qualquer dúvida.

Personagens à parte, a terceira temporada de The Crown continua a levar-nos numa viagem entre os bastidores da família real e o que todos conhecemos. É, em grande parte, o seu grande encanto que aqui continua altamente vincado. Com o crescimento de Charles e Anne (os filhos mais velhos de Elizabeth Edward), e mesmo com o avançar da idade da Princesa Margaret, existe uma perceção muito maior da pressão da Monarquia em quem faz parte dela. É interessante ver o florescer da relação entre Charles e Camilla Shant (aqui ainda não Parker-Bowles) e como os próprios demónios do jovem príncipe moldam muito a personagem que estamos habituados a ver no ecrã.

De uma forma geral, esta nova temporada parece concentrar-se muito mais nos que rodeiam a Rainha do que na própria. Mesmo a nível político, cujos acontecimentos continuam a ter a sua importância e destaque, agora parece que viramos o foco de Elizabeth e da sua habituação ao trono para a restante família, como lidam com a pressão e os papéis de cada um. A Rainha já está resignada ao que é, as suas dúvidas e incertezas já estão mais controladas (se bem que não adormecidas), e agora é a vez de vermos o que o seu papel gera no seio familiar.

Mas também nacional. Há uma continuação do estudo deste papel da Monarquia, daquilo que a Família Real significa para o país e para o mundo e como os seus membros devem encarar esse papel. O episódio sobre o desastre de Aberfan é um grande exemplo de ambos os temas.

Esta parte de diálogo sempre foi o que achei de mais interessante na série. Apesar de vivermos num mundo ocidental em que a importância das casas reais tem caído, no Reino Unido continua a existir uma certa reverência à Rainha e ao seu papel; desempenham papéis políticos de alguma relevância, até, um pouco além das casas reais europeias que servem às vezes como meros representantes.

The Crown permite-nos conhecer o bom e o mau, e até dar alguma humanidade a estes enviados de Deus que existem na Terra. A terceira temporada, se bem que visivelmente mais calma e parada, é o prenúncio para tempos mais atribulados - está confirmado que na próxima temporada teremos a introdução a Diane de Gales e Margaret Tatcher (que será interpretada por Gillian Anderson).

 

Até lá, podem acompanhar The Crown no Netflix.

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