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Fui ao Cinema... E não comi pipocas!

As aventuras e desventuras de uma miúda que se alimenta de histórias cinematográficas.

Fui ao Cinema... E não comi pipocas!

As aventuras e desventuras de uma miúda que se alimenta de histórias cinematográficas.

Pipocas em tempos de pandemia global - uma atualização

28.04.20 | Maria Juana

Pensei bastante antes de começar a escrever este texto. Por vários motivos: 1. Estive fora demasiado tempo (literalmente, fora do país); 2. Sinto que não me consigo dedicar a este espaço a 100% como queria; 3. Vivemos tempos tão estranhos que vir para aqui falar sobre Cinema parece-me deslocado e sem nexo - sobretudo quando nem ao Cinema podemos ir!

Ainda assim, cá estou. Outra vez. A escrever um texto de comeback porque já fui e vim tantas vezes que não vale a pena contar porque me faz bem à alma.

Mas este não é um texto como os outros. Este é escrito em virtude da realidade, do presente e do futuro - que ainda é tão incerto e tão afastado que parece meio irreal; “será que haverá mesmo um futuro?” penso eu, nesta minha bolha de 55 metros quadrados.

 

Para contexto, estive 3 semanas na Nova Zelândia, a viajar entre paisagens saídas do (e criadas para) Senhor dos Anéis, viagens por um tempo mais simples e culturas a anos-luz do que é o nosso dia-a-dia. Tinha todo um conteúdo preparado para escrever sobre os cenários, os sets construídos, as oficinas de pós-produção e maquilhagem que pudemos visitar.

Mas o mundo um pouco que me trocou as voltas.

Sabem aquela sensação que existe quando voltam ao trabalho depois de estarem de férias? A claustrofobia do escritório vs os dias em que estavam sempre fora de casa (ou apenas no sofá)?

Multipliquem-na por isolamento social voluntário.

Quando regressámos de viagem, o mundo já estava em alvoroço… Já andámos de máscara nos aeroportos com medo do bicho invisível e já lavámos as mãos com uma vontade acérrima de erradicar qualquer bactéria ou vírus malandro. Em Portugal ainda havia um clima de incerteza, mas não demorou muito a deparar-me com pessoas com medo, que preferiam o isolamento social à incerteza de não saber o que podia acontecer numa viagem de transportes públicos.

E duas semanas depois do meu regresso do paraíso, fechei-me em casa.

Imaginam o choque de realidades! Tinha praticamente acabado de regressar de umas viagens mais libertadoras da minha vida, em que percorremos quilómetros e quilómetros de estrada e nos atrevemos a falar com estranhos. Em algumas paragens, tomámos banho em nascentes de água quente e cogitámos até colocar os pés em fontes termais naturais. O contacto com o outro (um outro amável, conversador, simpático) foi uma constante num país em que as pessoas correm na rua a todas as horas e onde qualquer pedaço de terra junto ao mar é uma praia.

Além disso, pasme-se que, estando praticamente um mês de férias e regressando para um trabalho com deadlines apertados e alguns projetos importantes, não via vários familiares e amigos fazia muito tempo. E as videochamadas que fazíamos só por estar do outro lado do mundo tornaram-se uma regra que pouco gosto de cumprir.

Por isso não, não sinto um regresso fácil. A verdade é que na minha cabeça, esta viagem ia funcionar como um interruptor que desligava a minha vida antiga e começava uma nova. Parti de coração pesado, ansiando que uns tempos fora fossem o suficiente para encontrar motivação, vontade de fazer mais e alinhar as agulhas das prioridades. Guess what: estava a funcionar tudo muito bem até que tive de me fechar em casa. A motivação foi pelo ralo. Acordar cedo para fazer o que quer que seja é um suplício e, apesar de estar em teletrabalho, a procrastinação é muito mais fácil de conseguir agora que ninguém vê se estou a ler um livro ou a enxurrada de emails que tenho na caixa de entrada (cara entidade patronal, prometo que estou a trabalhar imenso).

A saúde mental é uma coisa complicada de perceber porque não tem regras. Não existe um exame que nos mostre que um órgão está fora do sítio, ou uma análise que demonstre por A+B que os níveis estão descompassados e por isso é que nos sentimos na merda. Sair da paz total para entrar numa clima de medo e isolada do que costuma por-nos para cima tem tudo para correr mal, não tem?

Por isso, andamos assim. Ainda não vi Casa de Papel, nem o Milagre da Cela 7. Poucos foram os filmes que consegui pôr em dia. Já vi um ou outro documentário, andei pela trash TV dos reality shows e sorvi After Life como se a minha vida dependesse disso (sobre este, já lá vamos).

Mas a vida continua. E, esperemos, voltaremos ao Cinema também.