Sinopse: Herman Melville (Ben Whishaw) vive inspirado pela história da baleia branca que levou ao naufrágio do baleeiro Essex, em pleno século XIX. Mais do que o naufrágio, Melville procura saber como sobreviveram os seus tripulantes, e por isso conta com a colaboração de um dos últimos sobreviventes, Thomas Nickerson (Brendan Gleeson).
Diz que é baseado numa história verídica. Moby Dick tem vivido no imaginário de várias gerações, desde que Melville contou a sua história. No Coração do Mar pretende contar a verdadeira, aquela que inspirou o autor e que o levou a escrever um dos clássicos da literatura mundial.
Portanto, podemos dizer que o filme acaba por ser uma recordação de como Melville lá chegou. Quem está à procura de grandes aventuras do mar e imagens épicas (se bem que existem qb), talvez não encontre o esperado. Entre memórias e realidade, o filme passa por várias épocas sem na verdade assentar em nenhuma delas.
O que não abona a seu favor. Percebe-de que Ron Howard tenta mostrar o que apaixonou Melville colocando o próprio no centro da ação, mas a verdade é que com isso acaba por perder força na verdadeira história : o naufrágio do Essex.
Howard já demonstrou que sabe contar histórias. Tem por hábito deixar-nos presos do princípio ao fim, e parece que neste falta um pouco de coerência.
Eu pedia-lhe mais. Queria mais Moby Dick, mais personagens humanas. Porque esta é uma história de sobrevivência. Foram homens que passaram por tormentas para tentarem chegar a um porto seguro, sem nunca saberem se iam morrer ou viver. E o que custa mais é ver que esse prisma (se bem que presente) é passado ao de leve, como uma pena ao vento; aceitamos que um filme de três horas não seria ideal, e que muito do essencial está mostrado, mas parece que falta qualquer coisa.
Até pedia mais Chris Hemsworth. No papel de imediato do Essex Owen Chase, Hemsworth não foge muito do tipo de papéis a que nos tem habituado; é um dos protagonistas, mas até a sua presença parece meio apagada. Verdade que o seu visual (que causou surpresa recentemente na internet, quando uma fotografia durante as filmagens foi publicada e mostrava um terço do Thor a que estamos acostumados) passa parte da mensagem, mas não é suficiente.
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Num filme que se queria humano, aquilo que mais se perdeu foi a dimensão das personagens. Podiam ter aparecido e sido mais do que aquilo que Howard fez delas, até porque havia sumo para espremer. No final, são pessoas que passamos a conhecer, sem na verdade encontrar as suas emoções e traumas. A mim fez-me confusão porque gosto de ver as pessoas no ecrã, mais do que a sua história; é a forma como se cruzam que constrói uma boa personagem.
No fundo, No Coração do Mar é um filme apagado ao qual não retiro o seu mérito. Vê-se bem, tem uma fotografia muito bem pensada, eficiente e bonita, e não deixa de ser um momento bem passado. Vemos um bom elenco em ação, baleias poderosas no seu habitat natural, e ansiamos em saber como será o desfecho. E claro, ficamos a conhecer uma grande história de sobrevivência. Mas que podia ter sido muito melhor aproveitada.