Não vou ao cinema há 3 meses – uma aventura
A 16 de maio publiquei neste sítio aquele que foi provavelmente dos últimos (se não o último) filme que assisti na sala de cinema. Chama-se Deadpool 2. Conhecem? Quase que já é história antiga.
Mas não, só tem quase três meses. Três longos meses, ausente das salas e da emoção de assistir a um novo filme na sala e a escrever sobre ele.
Acho que nunca tive tanto tempo sem ir ao cinema. Sempre me orgulhei de ser uma assídua frequentadora, e sempre dei graças pela possibilidade de ainda poder abrir a carteira a algo que nos últimos anos se tornou um luxo. Por isso, chegar à conclusão de que passou todo este tempo sem pôr os pés neste sítio, não é algo que goste de admitir a mim mesma.
E o pior é que sei claramente qual é o motivo. Por muito que saibamos que somos sempre os responsáveis pelas nossas escolhas, é bom podermos culpar alguém além da nossa pessoa – a falta de tempo devido a excesso de trabalho, pouco dinheiro, férias, ausências da cidade... Tudo razões muito plausíveis e verossimeis.
Mas altamente erradas.
Não tenho ido ao cinema porque não quero. Sucumbi à confortabilidade de ter Netflix diretamente na TV, e a uma infidável oferta de séries, especiais de comédia e filmes. Deixei-me levar pela preguiça de saber que tenho de estacionar o carro 3 quilómetros da porta de casa porque moro num prédio sem garagem. E o pior de tudo, fiquei sem cartão NOS.
Sim, sou eu e a minha preguiça as responsáveis por 3 meses de ausência. Nem sei o que está atualmente em cena! Deixei passar as estreias de Han Solo, Parque Jurássico e Os Incríveis 2, e tenho visto só alguns trailers que aparecem no feed de Facebook.
Enquanto ser humano orgulhoso que sou, que gostava de fazer vida disto de escrever sobre cinema, custa-me admitir que sou responsável pela minha própria ausência. Então ando para aqui a dizer que é paixão, e ao fim de algumas adversidades desisto?
Que raio de paixão é esta, então? Será volátil, que aparece de vez em quando, quando estou para aí virada?
O facto de não ir ao cinema não me fez questionar a paixão pela arte de uma forma tão premente. No entanto, fez-me sim pensar no próprio ato, e na forma como levo tão a sério essa experiência.
A verdade é que já disse por aqui mais do que uma vez que para mim ir ao cinema é assistir ao filme na sua plenitude. Porém, as circunstâncias da vida por vezes fazem-nos repensar que coisas que achavamos indispensáveis podem, afinal, ser apenas parte do todo.
Ou seja, ando à procura de novas formas de ver Cinema, sem que tenha de me obrigar a frequentar as salas todas as semanas.
Não é fácil. Nem é bonito, sobretudo quando passamos parte da nossa vida a orgulhar-mo-nos de algo que tomavamos como garantido, e que hoje questionamos.
Mas se há algo que esta coisa da vida nos ensina é que não podemos tomar nada como garantido.
Eu sei que este texto pode parecer demasiado filosófico e profundo, sobretudo quando estamos a falar apenas de uma ida ao cinema. Ninguém morreu, ninguém ficou doente... A única coisa de grave que aconteceu é que uma miúda com a mania que percebe da coisa deixou de ir ao cinema.
Só que é nas pequenas coisas que por vezes vamos buscar algumas respostas para questões mais essenciais que nos têm assaltado. E este, para mim, é um desses casos.
Não ir ao cinema durnte 3 meses fez-me pensar nas prioridades que marco na minha vida, e que talvez esteja na altura de as mudar. Tenho sofrido várias mudanças, e parece que não me adaptei totalmente ao que exigem. Refletir sobre um assunto tão trivial ajudou-me a ver essa falha – e que está na hora de a enfrentar.
Por isso tem mesmo sido uma aventura não ir ao cinema há tanto tempo, sobretudo porque significa que o meu dia-a-dia está muito mais diferente do que aquilo que imaginava. É uma nova aventura, mas como todas as que vivemos me vai fazer chegar a um destino inesperado.