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Fui ao Cinema... E não comi pipocas!

As aventuras e desventuras de uma miúda que se alimenta de histórias cinematográficas.

Fui ao Cinema... E não comi pipocas!

As aventuras e desventuras de uma miúda que se alimenta de histórias cinematográficas.

Mustang (2015), histórias de inocências perdidas e encontradas

23.02.16 | Maria Juana

Sinopse: Lale (Gunes Sensoy) e as suas quatro irmãs acabam o ano letivo numa inocente brincadeira na praia, com um grupo de rapazes. Mas na tradicional e conservadora cidade costeira na Turquia a que chamam casa, a brincadeira não é vista com bons olhos, e as cinco órfãs são fechadas em casa pela sua avó e tio, com quem vivem. E, com isso, são obrigadas a viver no seu próprio mundo, e lutar contra as suas novas obrigações.

 

Considero-me uma mulher liberal, mas também respeitadora de costumes. Ainda assim, custa-me acreditar que ainda existem pessoas que olham para brincadeiras inocentes como pecados carnais; custa-me crer que ainda existem locais em que crianças são privadas da sua inocência para respeitar supostos ideais de castidade. Mais do que isso, custa-me saber que as coisas pelas quais Lale e as irmãs passam são, na verdade, um retrato verdadeiro de algumas cidades neste mundo.

 

A história das cinco irmãs não é fácil, e a tragédia que se dá nas suas vidas faz-nos olhar para tudo isto com outra perspetiva. Contada na visão de Lale - a mais nova -, a história é, tal como o filme no todo, simples mas, ao mesmo tempo, muito poderosa .

 

E a verdade é que não precisa ser complexa, apenas verdadeira. Percebemos que no argumento e realização, a franco-turca Deniz Gamze Erguven (sendo esta a sua primeira longa metragem) deixou de lado planos muito pensados e linhas de pensamento muito difíceis de perceber por um simples motivo: quis mostrar como a Turquia é um país dividido entre a ocidentalidade (na sua liberal Istambul) e o conservadorismo que limita vidas como as das irmãs de Lale.

O filme ganha até mais forma por isso mesmo: é de tal forma cru que a sua mensagem nos toca de uma forma muito mais intensa. É sobretudo difícil para nós, mulheres, ver crianças a serem obrigadas a casar sem conhecerem a inocência da sua juventude. Dói no coração...E tudo porque uma vizinha achou que as suas brincadeiras na praia roçavam o burlesco.

 

Mas ao mesmo tempo que dói, também encanta ver como estas cinco irmãs são obrigadas a criar o seu próprio mundo para se manterem sãs e fiéis a si próprias. De espírito livre, mas vendo-se subitamente privadas da liberdade, não deixam que as grades que lhes colocam nas janelas diluam as suas personalidades tão vincadas – muito graças ao mérito das cinco jovens estreantes que encarnam os seus papéis.

 

Erguyen soube escolher os momentos e paralelismos certos para que a mensagem fosse apreendida sem duplas interpretações; não há dúvida de que a crítica social e o retrato da sociedade turca rural fazem parte das suas preocupações, e é isso que nos quer mostrar.

Mas passemos a ver Mustang também pela beleza das suas relações. Dando a devida importância à realidade que nos mostra (dura e digna de ser combatida), vamos também ver Mustang como a história de cinco irmãs que se amam, e que precisam de se unir para serem felizes. E aqueles momentos em que os seus sorrisos mostram que o são mesmo, são os que nos fazem questionar as provações porque passam.

 

Mustang está nomeado para Melhor Filme Estrangeiro nos Óscares deste ano, e, para mim, já levou isso e muito mais.

 

De 0 a A língua turca parece indecifrável, leva: Não percebo mesmo nada daquilo!