LIVROS QUE DERAM FILME – O Planeta dos Macacos
Há uns tempos, enquanto percorria a prateleira de livros na casa da minha avó, fiquei intrigada com um deles. Na lombada dizia O Planeta dos Macacos, de Pierre Boulle. Veio logo à memória o filme do Tim Burton em que humanos são capturados por gorilas falantes.
Até então, achava que O Planeta dos Macacos tinha sido apenas fruto de uma mente cinematograficamente muito criativa. Talvez até já tivesse ouvido falar que era baseado num romance, mas nunca me tinha feito o click quando olhava para as lombadas daquela prateleira. Uma falta de livros para ler levou-me a pegar nele, e a viagem começou.
Uma viagem até à mente de Boulle, que em 1963 apresentou este mundo estranho e complexo aos seus leitores. Mas como é que é possível que uma comunidade de macacos exista e seja civilizada, enquanto os humanos são escravos?
O livro em si é uma viagem alucinante e interessante, que não só nos leva para este mundo estranho, como nos conta como aconteceu e a sua origem. Apesar de não se deixar levar muito por esta questão, ficamos com uma ideia geral dos acontecimentos. O melhor, porém, são os vários plot twists e que tais que nos deixam de boca aberta – sobretudo quando já conhecemos a história depois de vermos uns três filmes sobre ela.
Eu gostei mesmo do livro, não só por ser estranho e descabido, mas sim porque está super bem construído e escrito, com aquele estilo do meio século.
E não devo ter sido a única porque, em 1968, chega a primeira adaptação para cinema desta obra de Boulle. Confesso que nunca assisti, mas o sucesso foi tal que deu origem a quatro sequelas, que se deixaram inspirar por este universo: novas histórias, novas descobertas, as origens e a guerra pela conquista.
Para mim, a minha primeira experiência foi com a versão de Tim Burton, que só chegou em 2001. Apesar de ser um filme que chega às expectativas (quer dizer, quem não acha que a Helena Bonham-Carter consegue ser uma excelente atriz até quando está com um fato de macaca?), depois de ler o livro percebi que a adaptação está aquém do romance. Burton e a equipa de argumentistas partiu apenas da premissa de que existe um planeta assim, e não adaptou mesmo a história criada por Boulle.
O mesmo aconteceu com o reboot da saga em 2011, com o lançamento de Planeta dos Macacos: A Origem.
A partir daqui, voltamos à saga original iniciada nos anos 70, mas desde o início. Utilizando como inspiração o quarto filme da série, Conquest of he Planet of the Apes, partimos à descoberta das origens deste planeta, e de como os macacos chegaram até à civilização.
O caminho continuou a ser perseguido durante os dois filmes seguintes, culminando em Planeta dos Macacos: A Guerra, que estreia hoje nas salas portugesas.
Temos visto a batalha entre macacos e humanos, e como é que a inteligência dos primeiros tem crescido. Agora, vamos ver uma batalha em que o seu líder, Caeser, tenta vingar a sua espécie e conquistar o que é seu por direito... ou ele assim pensa.
É claro que, mesmo que não exista um seguimento de A Guerra, sabemos como é que acaba, e o que acontece a seguir. O bom desta nova trilogia foi que nos levou por caminhos novos, e nos mostrou o que ainda não sabiamos sobre este planeta.
Pelo que sei, apenas o primeiro filme, de 1968, conseguiu pegar nas revelações e pretensões da obra de Boulle e criar uma adaptação consistente. Apesar das suas diferenças, a crítica, e mesmo os plot twists, acompanham um pouco aquilo que encontramos no livro.
O que tem o seu quê de bom, e de mau: por um lado, conseguimos uma adaptação consistente e concreta; por outro, perdemos uma boa parte da experiência de ler o livro.
Mesmo assim, gosto que os filmes seguintes tenham mantido uma certa distância da obra. De uma forma muito interessante, utilizaram a criação do autor francês para nos mostrar aventuras distintas, sem na verdade nos apresentar a Ullysse e Nova, Jinn e Phyllis. Gosto que nos tenham ajudado a perceber o universo, e que não anulem na totalidade aquilo que Boulle escreveu.
Assim, conseguimos ver os filmes, sabendo que a experiência de ler o livro pode continuar a ser uma novidade.
E meus amigos, que novidade!