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Fui ao Cinema... E não comi pipocas!

As aventuras e desventuras de uma miúda que se alimenta de histórias cinematográficas.

Fui ao Cinema... E não comi pipocas!

As aventuras e desventuras de uma miúda que se alimenta de histórias cinematográficas.

Ir ao Facebook no cinema já é demais, não?

01.02.17 | Maria Juana

Pensei muito antes de escrever este texto. Falei com algumas pessoas, para ter a certeza que o problema não era apenas meu. É que eu tenho noção que, para mim, ir ao cinema é uma experiência transcendente, em que gosto de estar somente eu, o filme e as possíveis emoções que me transmita. E isso faz com que possa ser muito picuinhas.

 

Por isso, pensei muito. Refleti, tentei distanciar o meu comportamento daquele que é o senso comum, e cheguei a uma conclusão: não, o problema não pode ser só meu.

 

Achei que era boa ideia ir assistir a Silêncio (cuja opinião já podem ler) numa tarde de sábado chuvosa. Além disso, escolhi uma das salas de cinema mais concorridas de Lisboa. A sala estava com uma lotação generosa, por isso eu já tinha noção de que poderia ter de lidar com alguns comportamentos que não vão ao encontro daquilo que gosto de experienciar numa ida ao cinema.

 

Mas até aqui tudo bem. Ao longo dos anos aprendi que viver em sociedade implica respeitar que as outras pessoas podem (e devem) ter opiniões e comportamentos diferentes dos meus, logo, estava preparada para isso. Porém, há limites para tudo nesta vida.

 

Tudo começou quando me sentei no meu lugar. O marcado, na última fila, como gostamos. Ao meu lado, um casal já estava sentado, a preparar-se para a sessão. A senhora comia, mas nada que fizesse barulho. Um ponto a favor.

 

Eu estava genuinamente satisfeita, porque pela altura dos trailers não tinha muitas vozes à minha volta, ou pipocas a serem devoradas como se alguém estivesse há quatro anos sem comer. Mas tudo o que é bom acaba: a senhora ao meu lado achou por bem trazer um saco de pipocas DE PLÁSTICO para um filme chamado Silêncio.

 

Como já disse, eu já aprendi a tolerar muitas coisas, porque sei que nem todos são como eu. O barulho das pipocas foi uma dessas coisas, até porque já aconteceu dar-me a fome a meio de um filme, e pipocas são mesmo a única coisa mais silenciosa que há para comer nesses sítios. Mas plástico??? Pacotes que fazem barulho só de pegar neles, quando mais a pôr e a tirar dentro da mala??

 

Não, não fiquei satisfeita, mas tentei respirar fundo. Minutos mais tarde, do meu lado esquerdo faziam uma versão comentada do filme. Foi como se tivesse ligado a opção “Comentários do Realizador” num DVD. Voltei a respirar fundo.

 

A gota de água foi quando comecei a ver uma luz no meu canto do olho. Estava a incomodar, porque estava muito próxima. Era um brilho intenso, que tentava chamar-me a atenção. Olhei por meros segundos, só para saber de onde vinha. Querem saber o que era? Era um senhor a ir ao Facebook em pleno filme!

 

Bolas, no Facebook? Eu sei que Silêncio não é um filme fácil de ver; eu própria me senti tentada a fechar os olhos um ou outro segundo. Mas Facebook?

 

Senti-me desrespeitada. Não só porque paguei quase sete euros para assistir a um filme, e alguém decide incomodar os meus olhos porque quer ver as fotos dos amigos à lareira, mas porque senti um perfeito desrespeito pela experiência em si.

 

Eu sei, para mim, ir ao cinema é um momento sagrado; para muitos, é mero entretenimento. E foi apenas isso, e a noção de que a minha liberdade acaba onde a do outro começa, que me fez não me virar para o senhor e perguntar se queria também uns auscultadores para ver os vídeos de gatinhos.

 

Não, não temos todos de ter os mesmos comportamentos. No entanto, acho que deixamos de olhar para as nossas ações como algo que tem consequência na vida dos outros, e passamos a pensar neles apenas como as nossas ações, e que só a nós nos dizem respeito.

 

Sinto que o conceito de liberdade se diluiu desde o momento em que os nossos familiares tiveram de lutar por ela. Agora, liberdade é fazer o que me apetece, e ai de quem me diga que não posso estar no Facebook dentro de uma sala de cinema.

 

Pois eu digo que não, não podem. Porque ao vosso lado por estar alguém a gostar mesmo do filme, e a quem a luz penetrante do vosso ecrã vai chamar a atenção.

 

Agora pensa.

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