Halle Bailey vai ser Ariel em A Pequena Sereia. E ainda bem!
Foi uma das notícias que abalou a semana: Halle Bailey, de 19 anos, foi escolhida para interpretar Ariel no live-action da Disney de A Pequena Sereia.
Ela é cantora e atriz, descoberta pela Beyoncé herself (em conjunto com a irmã, com quem forma a dupla Chloe x Halle), e uma das protagonistas da série de televisão grown-ish. O realizador do filme, Rob Marshall, diz que ela tem todas as características que procurava para o papel . Ainda assim, há toda uma onda na internet que critica a escolha só porque é uma atriz… negra!
É curioso que esta notícia chegue na mesma semana em que uma senhora publicou no Público um texto que podemos apenas descrever como racista. Um texto em que é dito que o branco é melhor e superior só porque é branco e que todas as outras cores de pele e etnias não são dignas nem conseguem ser iguais.
Para os que criticam a Disney, a única justificação foi que a Ariel original era branca e ruiva. No seu entender, qualquer atriz escolhida teria de ser igualzinha à versão animada, porque sim. Querem “respeitar” as origens.
São críticas um pouco estranhas e bipolares, já que ninguém questionou a escolha de Melissa McCarthy para o papel de Ursula - e, a não ser que ela tenha mudado muito desde a última vez que a vi, não é roxa!
É uma eterna questão: vamos escolher um ator para uma adaptação que encaixe na descrição física, ou que tenha uma interpretação que se adequa ao papel?
Eu prefiro boas interpretações a descrições perfeitas. Um papel não depende da cor da pele, mas sim do que o ator consegue transmitir.
Principalmente quando não existem raízes culturais que de alguma forma não mudem esta perceção nem a história que está a ser contada. É importante conseguirmos distinguir quando de facto isso influencia a personagem, ou quando não faz a diferença - é por isso que é ofensivo escolher a Scarlett Johansson para o papel de uma personagem de anime, ou por que é que foi obrigatório escolher um elenco asiático para o liveaction de Mulan; as raízes da história e dos comportamentos das personagens estão lincados à sua cultura.
Não acho que isso aconteça com Ariel. Apesar da sua origem nórdica ser clara, isso terá alguma dimensão na sua personalidade e comportamento?
Para Rob Marshall e para a própria Disney, a resposta é um claro não. Bailey foi escolhida pelo seu talento, que faz todo o sentido para a personagem.
Também faz sentido para o mundo em que vivemos. Estamos no século XXI, malta, já não é altura de todos termos oportunidade de sonhar? Olhem para todas as princesas Disney. Quantas é que encaixam no físico de Bailey? Quantas oportunidades teria para viver um sonho destes na sua carreira?
Muito poucas. Pelas minhas contas, apenas uma, se a sua carreira estivesse limitada ao seu físico.
Ainda bem que Halle Bailey pôde concretizar o seu sonho, mantendo em aberto o sonho de tantas outras meninas. Ainda bem que Halle pode mostrar que existem princesas negras - não só para as meninas como ela, mas como para as brancas que percebem que todas somos iguais.
É bonito quando vivemos num mundo assim e fazemos orelhas mouras às críticas…
A produção de A Pequena Sereia vai começar em 2020 e ainda não existe uma data de estreia concreta. Além de Rob Marshall na realização, o video vai contar com a produção de Lin-Manuel Miranda e também com a sua colaboração na banda sonora.
A Bailey e McCarthy, junta-se também no elenco Jacob Trembley (como Linguado) e Awkwafina como Scuttle, a gaivota que ajuda Ariel na sua aventura.
Este é um dos vários filmes e live action que a Disney tem agendados para os próximos anos. Algumas datas de estreia já estão marcadas, mas só Mulan é que tem um lançamento concreto.