Doutor Estranho (2016): os super-heróis viram feiticeiros
Sinopse: Stephen Strange (Benedict Cumberbatch) é um neurocirurgião brilhante com uma carreira de sucesso. Arrogante e ciente do seu valor, acredita que a sua vida acabou quando sofre um acidente de carro que danifica as suas mãos. Depois de perder a fé na medicina ocidental, viaja até ao Nepal ao encontro de uma cura... e encontra um guia espiritual que lhe dá poderes inigualáveis.
Quando Doutor Strange surgiu pela primeira vez na banda desenhada, percebeu-se que esta era uma nova viagem para a Marvel. Aqui, a magia é rainha, e são os feitiços e poderes místicos que fazem dos super-heróis, super. Ao fim de tanta ação bruta, é bom assistir a uma nova vertente no universo Marvel.
E Doutor Estranho funciona exatamente como a lufada de ar fresco que a Marvel precisava. Nos últimos tempos, com a exceção de Guardiões da Galáxia, temos assistido a fórmulas e filmes repetidos, que nos deixam sem entusiasmo. Aqui voltamos às origens, em que temos um ótimo argumento, com personagens interessantes, e uma história que está bem cuidada e contada.
É o equilíbrio de que estávamos a precisar. Entre humor, ação e alguma lamechice, quase nos faz lembrar o primeiro Homem de Ferro, com aquela astúcia e personalidade única de Tony Stark – a mistura entre herói e besta que nos apaixonou.
Mas sem se tornar repetitivo: são personagens diferentes, com ambições e objetivos diferentes. O que têm em comum são visões que sabem o que nos mostrar para que fiquemos presos ao ecrã, e nos apaixonemos pelas personagens e os seus dilemas.
No caso de Strange, demora. Ele é egoísta, arrogante e dá-nos vontade de lhe atirar com algo à cabeça. Ao longo do filme, devagar, vamos conhecendo outros lados, outras emoções, e outras vontades que nos mostram que há muito mais para conhecer e gostar.
E da mesma forma que Tony Stark só podia ser interpretado por Robert Dawney Jr, depois de assistir a Doutor Estranho seria impensável pensar em alguém que não Benedict Cumberbatch para o papel. Ele dá uma classe e postura inigualáveis a qualquer personagem, e com esta não é diferente. Parece que lhe assenta que nem uma luva, que entra na sua alma e é impossível dissociar um de outro. Não é por acaso que a produção do filme atrasou para que Cumberbatch pudesse entrar – eles sabiam que era ideal para o papel.
Tal como todos os outros membros do elenco. Ao contrário do que acontece noutros filmes do género, não existem muitas personagens, o que é bom para que o argumento também possa ser simples e perceptível. Mas todas elas acrescentam valor – com um grande aplauso para Tilda Swinton, que está misteriosa e altiva, como era esperado.
É claro que podemos fizer que, no fundo, no fundo, Doutor Estranho não é nada que a Marvel já não nos tenha apresentado: um homem mimado que descobre poderes, é praticamente obrigado a salvar o mundo, e descobre o bem de ajudar os outros.
Não o nego. Da mesma forma, não nego que a ação possa parecer demasiado rápida, como se tudo acontecesse num piscar de olhos.
Apesar de tudo isso, acredito que este é um bom rumo. É a mesma história, mas a magia e os fantásticos efeitos visuais (muito bem dirigidos, sem nos parecerem estranhos ou deslocados do cenário real) dão-lhe outro encanto. É também outra personagem, com novas dimensões, mais negras e emocionais; e um argumento bem levado, que nos deixa presos ao ecrã sem ficarmos confusos ou querermos perder pitada da ação.
Para mim, isso é suficiente para me deixar entusiasmada pelo futuro. Mostra-nos que talvez esteja na hora da Marvel mudar de direção, de nos levar por caminhos diferentes e mais desafiantes. A presença de Strange no grande ecrã é um bom prenúncio – se bem que a sua presença está prevista para outros filmes Marvel.
Vou ficar triste se for pelo mesmo caminho dos restantes heróis e perder o encanto. É que gostei mesmo dele...