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Fui ao Cinema... E não comi pipocas!

As aventuras e desventuras de uma miúda que se alimenta de histórias cinematográficas.

Fui ao Cinema... E não comi pipocas!

As aventuras e desventuras de uma miúda que se alimenta de histórias cinematográficas.

Blackfish, o Cinema em prol do conhecimento

09.10.16 | Maria Juana

Desde que saiu, em 2013, que quero assistir a Blackfish (ou Orca – Fúria Animal em português). É um documentário realizado por Gabriela Cowperthwaite, que pretende mostrar como é que vivem as orcas em cativeiro, e como é que isso as põe em perigo, bem como aos seus treinadores. Nada como um sábado à tarde para nos fazer revisitar desejos antigos.

 

Antes de Blackfish começar, eu já sabia que ia ficar chocada com o que ía ver. Tinha visto alguns trailers e lido várias opiniões. Depois de ver Blackfish, apercebi-me que afinal nenhum trailer ou opinião conseguiria mostrar verdadeiramente o que estas orcas, e os seus treinadores, passam.

 

Contextualizando: nos Estados Unidos, existem três parques aquáticos SeaWorld. Lá, são diariamente expostos espetáculos com orcas em cativeiro, entre outros animais – uma espécie de Zoomarine, vá. Segundo a Wikipedia (estrangeira, é mais credível), nos três parques existem 23 orcas, e seis outras estão emprestadas a um parque espanhol. Todas elas vivem em cativeiro; algumas nasceram lá, outras foram capturadas ainda bebés.

 

 

Quem diz capturadas diz raptadas do seio das suas mães. Fiquei a descobrir com Blackfish (que se concentra nos acidentes entre orcas e treinadores nos parques SeaWorld, e nas mentiras que os responsáveis dos parques dizem sobre eles) que as orcas são animais muito emocionais e sociais. Os filhos só saem de perto das mães nos dias em que elas morrem.

 

Nos primórdios dos parques SeaWorld, a administração enviava baleeiros capturar as crias. Um dos testemunhos que mais me marcou foi de um destes baleeiros, que ouviu os lamentos da família no momento em que a cria é retirada da mãe.

 

Este foi um dos testemunhos que fez de Blackfish, além de educativo, como todos os documentários devem ser, muito bem feito. Não temos narradores a contar-nos as histórias, mas não precisamos. As histórias são-nos contadas por antigos treinadores no SeaWorld e outras testemunhas, que entraram num mundo que pensavam de sonho, e saíram sabendo que nem tudo é o que parece.

 

O filme é todo ele muito bem dirigido, e nota-se a preocupação de Cowperthwaite em contar todos os pormenores da história. Misturados com os testemunhos, e de forma subtil mas correta, estão imagens reais do comportamento das orcas.

 

 Antigos treinadores do SeaWorld que participaram em Blackfish, e expõe várias vezes as condições vividas nos parques.

 

Mas mais do que mostrar os acontecimentos, Cowperthwaite quis mostrar também o que são as orcas, o seu temperamento no mundo selvagem, e as consequências do cativeiro. Está muito bem pensado pela realizadora; as voltas que ela dá estão tão bem organizadas, que nos parecem mais do que naturais.

 

No fundo, é um documentário mais do que bem construído – é um filme digno de ser visto. Além da sua história, perdemos a noção que estamos a ver um documentário, e parece-nos apenas informação preciosa.

 

Porque não nos podemos esquecer do porquê de Blackfish existir. O documentário utiliza a morte de uma treinadora do SeaWorld (puxada pela orca Tilikum para dentro da piscina durante um espetáculo e brutalmente esventrada) como base para a sua história.

 

Dawn Brancheau faleceu em 2010 depois de ser puxada por Tilikum.

 

Aliás, Tilikum é o grande protagonista. É o seu comportamento que é analisado, não como uma orca normal, mas uma que toda a sua vida viveu em cativeiro, e que já esteve envolvido na morte de três pessoas (incluindo duas treinadoras). Como uma orca que viveu os primeiros anos de cativeiros numa piscina minúscula com duas outras, que o feriam várias vezes ao dia. Como uma orca que foi fortemente influenciada pelas condições de vida, que perdeu contacto com a família.

 

Escusado será dizer que Blackfish quer demonstrar como o comportamento de Tilikum, e de outras orcas, não é o comportamento natural. Também quer demonstrar como o termo baleias assassinas está incorreto. E eu concordo. Recuso-me a chamar baleia assassina a um animal amistoso, que não nasce com comportamentos violentos, mas que os seres humanos tornam violento. 

 

Só porque gostamos de ver animais majestosos a fazer truques num tanque? Ou porque queremos ganhar dinheiro?

 

 

Alguém durante o documentário dizia que não conseguia viver num mundo em que não pudéssemos contactar com estes animais, e que se os valorizamos e à sua beleza e inteligência, não devíamos questionar a existência de parques como o SeaWorld.

 

Bem, depois de ver Blackfish, eu questiono. E questionam muitos dos treinadores que trabalharam diretamente com estas orcas, e percebem que faziam parte do problema.

 

Às vezes, é por isso que gosto do Cinema – ficamos com os olhos tão mais abertos para a realidade...