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Fui ao Cinema... E não comi pipocas!

As aventuras e desventuras de uma miúda que se alimenta de histórias cinematográficas.

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As aventuras e desventuras de uma miúda que se alimenta de histórias cinematográficas.

Aniquilação (2018) – Obrigada, Netflix (e Alex Garland)!

15.03.18 | Maria Juana

Sinopse:  Depois de um ano sem ter notícias do marido militar em missão, Lena (Natalie Portman) está a tentar avançar com a sua vida. Até ao dia em que Kane (Oscar Isaac) regressa a casa, sem qualquer memória de onde passou os últimos 12 anos. Quando Lena descobre que o marido esteve envolvido numa missão de reconhecimento de uma área interdita, decide juntar-se à equipa de investigação que pretende descobrir o que aconteceu.

 

 

“Mas o que raio é que acabei de ver?!” Se este não for o vosso pensamento depois de assistir a Aniquilação, parabéns: fazem parte de uma elite que consegue descortinar o desconhecido com muita facilidade!

 

Eu não pertenço. Eu faço parte da maioria que precisou de respirar fundo para perceber o que raio tinha acabado de acontecer. E se bem que ainda não tenho a certeza se lá cheguei, sei que é daqueles filmes do caraças, que primeiro estranhamos e depois entrenhamos.

 

Logo à partida tem uma grande vibe de ficção científica, sem perder humanidade e realidade. Há um metereorito que foi contra um farol, uma área desconhecida de onde ninguém (à exceção de Kane) consegue regressar com vida, e uma fronteira entre o mundo real e esse desconhecido tirada de um filme de aliens. Ao mesmo tempo temos problemas conjugais, dúvidas existenciais e momentos muito humanos, o que quase nos faz questionar que tipo de filme estamos a ver.

 

Ou seja, Alex Garland escreveu e realizou um filme sobre a natureza humana, sem falar necessariamente em nós.

 

A ideia veio do romance Aniquilação, de Jeff VanderMeer. O livro pertence à trilogia Southern Reach, mas é adaptado apenas de uma forma muito livre no primeiro livro – e quando digo muito livre é mesmo muito livre. Está presente a ideia base, mas os acontecimentos são completamente diferentes.

 

 

Não o vejo como algo negativo. Tal com aconteceu com It, consigo distinguir as duas obras como distintas e independentes, apenas usando a mesma base – como uma sopa da nossa mãe que usamos sempre a mesma teoria, mas adicionamos legumes diferentes.

 

Até porque Alex Garland tem uma noção muito própria do caminho que quer seguir. Já em Ex Machina nos trouxe um momento de reflexão sobre quem somos e até onde é que as nossas ações nos podem comprometer. O exercício em Aniquilação é semelhante, mas vai muito mais longe.

 

Aqui temos um visual muito interessante, de um mundo impossível de existir mas estranhamento real. Protagonizado por cinco mulheres, são cinco mulheres que têm todas problemas, todas questões por resolver que as levam a voluntariar-se para uma missão aparentemente suicida. São problemas reais, num mundo impossível, mas que estranhamente nos leva numa viagem pelas suas motivações.

 

É um exercício estranho em como podemos descobrir mais sobre nós ao percebermos o que alguém estranho vê em nós – e aqui o nós é enquanto raça e indivíduo.

 

 

No fundo, Garland mexeu-nos com a cabeça. Pensávamos que íamos ver um filme sobre uma aventura impossível, num mundo de aliens, e afinal acabamos por encontrar uma narrativa sobre a humanidade.

 

Houve malta a comparar Aniquilação com o Mãe! de Darren Aronofski. Se bem que o último é muito mais transcendente e até estranho, há comparações possíveis de fazer – e aqui entra o Netlfix.

 

Durante os testes com o público (antes de lançar a versão final dos filmes nas salas, os estúdios organizam screen tests para perceber como é que o público reage ao filme), as reaçoes não foram muito boas. Houve quem o achasse estranho e muito intelectual, mas Garland não queria fazer alterações ao filme. A Paramount já tinha tido o mesmo problema com Mãe!, mas deixou Aronofski fazer o que queria. Garland não teve tanta sorte, então como recusou em alterar o filme, a solução foi passar os direitos de exibição para o Netflix.

 

E assim desviamos o acesso ao cinema. A solução é discutível; enquanto que nos Estados Unidos o filme ainda esteve exibido nas salas, na Europa só aqueles com acesso à plataforma de streaming é que conseguem assistir. Mas isso é um problema que vamos ter cada vez mais. Já é realidade recorrente que grandes filmes se fiquem por plataformas pagas, em vez de serem exibidos nas salas. Além disso, o facto de não ser necessário o mesmo tipo de investimento permite aos artistas uma maior liberdade – o que para Garland foi ouro sobre azul.

 

É que foi graças a isso que pudemos assistir a Aniquilação desta forma. E que vamos ficar traumatizados com as imagens que vimos.

 

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