A Balada de Buster Scruggs – Os irmãos Coen chegaram ao Netflix
Sinopse: São seis as histórias do faroeste norte-americano que fazem A Balada de Buster Scruggs. Entre o assalto a bancos, as armas e salões, vemos em seis histórias diferentes aspetos da vida do faroeste, com personagens e desfechos muito distintos.
Se mais provas fossem necessárias para provar que o Netflix está pronto para dar o próximo passo, A Balada de Buster Scruggs é isso mesmo. Depois de séries altamente bem sucedidas e de filmes assim a assim, a plataforma tem-se dedicada cada vez mais a criações de autor que já de si chamam a atenção.
Depois do lançamento de Aniquilação e Roma, de Alfonso Cuáron (que chega em dezembro), foram os irmãos Coen os mais recentes a ver a sua obra original com o selo Netflix. E que tem o seu cunho, não existe dúvida.
Em pouco mais de duas horas (a beleza de não ter de agradar a um público numa sala de cinema), os Coen escreveram e realizaram seis histórias que têm em comum a vida no faraoeste e pouco mais. Com um elenco de luxo, teria tudo para dar certo.
Zoe Kazan protagoniza o segmento The Gal Who Got Rattled, um dos mais longos e interessantes da trama.
Temos um James Franco a tentar assaltar um banco; um Liam Neeson a ganhar dinheiros às custas das performances de um (crescido) Harry Melling (sim, o Dudley Dursley, e aqui com uma interpretação do caraças); um Tom Waits a mostrar que ainda esttá para as curvas; e Tim Blake Nelson a interpretar a personagem que dá nome ao filme e a dar o mote para estas aventuras.
Elenco à parte, temos um filme composto por seis curtas-metragens coladas com a mestria e intensidade que merecem. Não parece ter ambição de ser mais do que isso – de facto, os próprios Coen explicaram que estas eram histórias que foram escrevendo ao longo dos anos, sem nunca pensarem que podiam dar origem a esta Balada.
Mas deu. Com um estilo muito próprio, com a violência que reconhecemos e o condão da intensidade, A Balada de Buster Scruggs é o epiteto da criatividade dos Coen em ação. Não parece ter pretensões de ser mais do que aquilo que é, mantendo-se fiel à idea de que é um exercício feliz em como as histórias mais inesperadas podem surgir em qualquer altura.
Também não tem pretensões de ser uma obra-prima. Apesar de ter uma fotografia de cortar a respiração e do argumento se manter coeso quanto baste, são duas horas de histórias, como se estivesses a ler um livro. Isso não é mau – é o que é.
Jonjo O'Neill e Brendan Gleeson protagonizam o último segmento, com laivos goticos e a apelar ao terror.
Não, este filme não é o novo Este País Não é Para Velhos. Pode beber do faraoeste e da criatividade de dois homens que parecem não saber quando parar, mas é bom apenas porque conseguimos estar duas horas entretidos com histórias do passado. Somos transportados para cenários desérticos e realidades tão diferentes, que nos esquecemos que na verdade estamos no sofa, de pijama e enroscados numa manta.
Mais do que um produtor, o Netflix demonstra ser a plataforma ideal para um filme que quase não o parece ser. Não só porque tem duas horas (e se tirassemos 20 minutos não seria nada mau), mas principalmente porque encaixa no tipo de conteúdo que estamos à espera de encontrar. Não é que cada filme não ganhe sempre com uma experiência em sala – ganha, ganhamos todos.
Só que há alturas em que talvez seja necessário repensar a forma como consumimos o cinema.
Filmes como Aniquilação e A Balada de Buster Scruggs vieram mostrar que há espaço para tudo. Que venha esse tudo.
***