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Fui ao Cinema... E não comi pipocas!

As aventuras e desventuras de uma miúda que se alimenta de histórias cinematográficas.

Fui ao Cinema... E não comi pipocas!

As aventuras e desventuras de uma miúda que se alimenta de histórias cinematográficas.

Unpopular opinion: não gosto assim tanto do Keanu Reeves

30.07.19 | Maria Juana

Sabem quando têm uma embirração com um ator? Quando sempre que veem a sua cara num filme vos apetece mudar de canal, ou revirar os olhos sempre que entra em cena? Ou simplesmente optam por não ver o filme?

Eu tenho isso com alguns atores - curiosamente são sobretudo homens, mas prometo que não é de propósito. Tenho conseguido escapar da grande maioria com algum sucesso porque nunca fazem nada que me dê vontade de ver, mas há um com quem tenho tido alguma dificuldade em escapar atualmente…

 

O Keanu Reeves.

 

Não me perguntem porque é que embirro com o homem, porque não vou saber responder. No entanto, responsabilizo em muito o Matrix. Desde aí que o senhor me aparece sempre com a mesma expressão, só lhe falta a gabardine preta e os óculos de sol.

Está para vir o filme em que consigo vê-lo com gosto e pensar ‘Eh lá, estive enganada estes anos todos!’. Tentei com Speed e não consegui; a Sandra Bullock estava assustadissima e apaixonada por ele e ele continuava assim, pãozinho sem sal. Tentei com o Rutura Explosiva e não houve nada nele que soubesse acompanhar o carisma e peso do Patrick Swayze (quem diria!).

Depois desisti. Vi uns quantos trailers, assumi que a minha opinião nunca se iria alterar e segui a minha vida, Reeves free.

Não, nunca vi o John Wick - e não foi por falta de oportunidade, porque tanto o meu namorado como a minha melhor amiga são fãs assumidos e acérrimos. Deixei-os ir ao cinema ver o John Wick 3 enquanto fiquei a ver Netflix em casa e foi um plano e pêras, devo dizer-vos.

Só que agora, sempre que viro a página do browser, lá aparece o Reeves! É no Ellen Degeneres Show a falar dele próprio, é nos artigos do BuzzFeed a explicar porque é que é a melhor pessoa na internet (!!!!), é em cameos de filmes Netflix… Até deu a voz a uma personagem do Toy Story 4!

Ao fim de tantos anos de carreira, Reeves parece estar a chegar a um pico de popularidade e eu genuinamente gostava de perceber o porquê. Do dia para a noite, a internet deu a conhecer o seu potencial e parece que todos estão prontos para receber de braços abertos tudo o que ele tem para oferecer, sejam boas ações random ou apenas pequenos papéis em filmes pouco conhecidos.

Confesso que Always Be My Maybe, o filme em que tem uma breve participação, está na minha lista desde que ficou disponível - não apenas por ele, claro, mas vai ser interessante vê-lo neste registo. Também confesso que adorei o Duke Caboom, a personagem de Toy Story 4 a quem empresta a voz. Sim, pode dar-se o facto de ter gostado porque não lhe vejo a cara, não nego que seja uma possibilidade. O que só demonstra que talvez só não vá com a cara do senhor.

Independentemente do que a internet diz, continuo sem gostar assim tanto do Keanu Reeves. Nem do Tom Cruise. E já gostei muito mais do Johnny Depp. São manias, mas manias que ganhamos e que tentamos a todo custo evitar, porque só evitando conseguimos encontrar valor em todas as obras.

Mas ver o John Wick? Não prometo nada…

 

#TBT Legalmente Loira, os 18 anos de Elle Woods

25.07.19 | Maria Juana

Quando é que pensaram pela última vez no Legalmente Loira - aquele filme com a Reese Witherspoon em que a protagonista mais parece uma barbie da vida real, mas na verdade está a tirar o curso de Direito em Harvard e a ganhar casos importantes? Provavelmente, desde a última vez que deu na TV. É daqueles filmes domingueiros, que apanhamos de vez em quando a dar e ficamos a ver pela piada.

É que já tem 18 anos. Estreou em junho de 2001, precisamente num verão louco que Elle Woods, a sua protagonista, ia adorar passar na praia ou na piscina.

Para a grande maioria, Legalmente Loira é apenas isso: uma comédia domingueira sobre uma miúda loira que tem piada. Sabem, é daquelas a que não damos muita importância e que vemos porque está a passar pela enésima vez e sabemos que gostamos e não há mais nada para fazer.

Provavelmente, essa maioria não sabe que o filme arrecadou 114 milhões de dólares na bilheteira internacional e foi nomeado para 2 Globos de Ouro. Também poderão não se recordar que além da sequela de 2003, o filme gerou um spin-off lançado em 2009, um musical na Broadway e um programa na MTV.

Para essa maioria, Legalmente Loira também não tem a importância que tem para os que ainda hoje guardam o filme no coração. Não passa de uma comédia? Digam isso à terceira parte que está confirmada para 2020.

 

Mas o que é que Legalmente Loira tem?

Em primeiro lugar, tem piada e permite-nos passar um bom bocado.

Por muito que este texto queira daqui a nada ir para um tom mais sério e político, um dos primeiros encantos deste filme é Elle  Woods, esta miúda como tantas outras que gosta de moda e beleza. E como tantas outras, está na faculdade, em busca da sua identidade.

Elle pertence a uma república e está apaixonada. É a improvável heroína, porque olhando para ela, com o seu cão a tiracolo e outfit cor-de-rosa, nunca ninguém iria imaginar que teria algo de serio para dizer. À sua volta são tantas as peripécias e desventuras que está criado o ambiente ideal para uma comédia.

Legalmente Loira é, e será sempre, em primeiro lugar uma comédia romântica que não é extraordinária. Está bem pensada, tem um argumento inteligente, mas nada mais do as 3 estrelas que um filme tão simples como este acaba por conseguir da crítica.

Ainda assim, ficou na memória e teve tanto sucesso porque não é a comédia romântica típica em que rapaz conhece rapariga, rapaz conquista rapariga e viveram felizes para sempre.

Elle quer quebrar barreiras e estereótipos.

Quando todos viam uma miúda loira e sem miolos, ela mostra inteligência e perspicácia; quando todos acham que moda é superficial, ela recorda como isso não significa que não possa ter importância.

O sucesso de Legalmente Loira vem muito desta mensagem de luta pelos objetivos face às adversidades, esta constante vontade de ir contra as expectativas e mostrar que aquilo que pensamos de uma pessoa nem sempre é real. Não faltam histórias ou provas em como isto acontece a toda a hora e nós, mulheres, somos muitas vezes as suas principais vítimas. Mas Elle Woods fê-lo de forma tão direta e simples que a mensagem ficou.

Este foi o filme que catapultou Reese Witherspoon para a fama. Wihterspoon, que hoje é uma das  atrizes que mais força tem feito para criar histórias e interpretações de mulheres fortes e capacitadas (Big Little Lies, a serie que produz e protagoniza, é um ótimo exemplo disso mesmo), referiu na altura que a mensagem de Elle foi um dos principais motivos para ter aceite o papel. Nesta sua demanda de procurar papéis relevantes e que fugissem ao normal, encontrou uma personagem feminina que mostra exatamente aquilo pelo qual todas devemos lutar: iguais oportunidades, independentemente da cor que escolhemos para a roupa.

Claro que muitos dos comportamentos de Elle e daquelas que a rodeiam são estereotipados: ela é a típica loira que vive fascinada por moda; as inteligentes são as chatas que só se vestem de cinza e não arranjam o cabelo. Se por um lado é muito daí que vem o lado cómico de Legalmente Loira, por outro é também a verdadeira origem da sua mensagem de poder feminino.

 

O que sabemos de Legalmente Loira 3?

Apesar da sequela não ter tido o mesmo sucesso que o filme original, o seu espírito não esmoreceu. Nela voltámos a encontrar uma Elle Woods fiel a si mesma, cheia de poder feminino e muita vontade de vencer quando todos julgam que não tem o que é preciso.

O terceiro filme chega 17 anos depois do original. As mulheres de há 17 anos devem ter pensado que este era um filme fixe para começar a desbravar caminho, mas a verdade é que nunca foi tão importante ter histórias de mulheres a quebrar barreiras quanto agora. Continuamos a precisar de mulheres fortes, mesmo que utilizem os seus conhecimentos de beleza para ganhar argumentos.

Pouco se sabe ainda sobre o filme. Reese confirmou há pouco tempo que estava em desenvolvimento e que as co-argumentistas dos 2 primeiros, Kristen Smith e Karen McCullah, vão voltar a escrever a história. A estreia já está marcada para 14 de fevereiro de 2020.

No meio de tudo isto, o mais incrível é como é que uma comédia romântica chega a este ponto. Normalmente assumimos que este tipo de filme não passa do primeiro nem tem grande capacidade de permanecer com o público. Mas Legalmente Loira tem um tal empowerment feminino que ainda hoje se fala nele.

E ainda bem, porque adoro a Elle Woods e mal posso esperar por vê-la novamente no grande ecrã.

Thor 4, Séries e Angelina Jolie no MCU - Todas as novidades Marvel na Comic Con

22.07.19 | Maria Juana

Foi perante um Hall H atolado na Comic Con de San Diego que o painel Marvel, na figura de Kevin Fiege, apresentou todas as novidades da Fase 4 do Marvel Cinematic Universe, que incluíram novos filmes, séries de televisão e muitos novos atores que se juntam a este universo. 

Com a estreia de Os Vingadores: Endgame (que se tornou recentemente o filme mais rentável de sempre depois de voltar às salas com 6 minutos extra de filme) e Homem-Aranha: Longe de Casa, a Fase 3 do MCU terminou num impasse para os super-heróis. Alguns rumores foram surgindo sobre o que poderia estar para vir, mas sem grandes certezas. O que se sabia era que a Marvel já tinha anunciado a estreia de alguns filmes para datas específicas de 2020 e 2021. 

Este fim de semana as dúvidas foram dissipadas e já sabemos quando estreiam todos os filmes e séries que farão parte desta Fase. Aviso à navegação: este vai ser longo…

 

Viúva Negra

Era uma daquelas de que já se estava à espera: vai mesmo haver um filme stand-alone sobre Natasha Romanoff, com estreia nos EUA marcada para 1 de maio de 2020. 

Kevin Fiege revelou que Scarlet Johansson vai regressar à pele da Viúva Negra, que neste filme tentará desvendar o seu passado enquanto defronta inimigos e outros obstáculos. Se conhecem as histórias originais, devem saber quem é O Treinador - eu confesso que não conheço o senhor, mas será o vilão desta história. 

Mas Johansson não estará sozinha: David Harbour, Florence Pugh (😱) e Rachel Weisz (😱😱) também fazem parte do elenco. 

 

The Eternals

Um dos momentos altos da comunicação de Fiege no Hall H da SDCC foi quando Angelina Jolie chega ao palco, parte do elenco de um novo filme. COMO ASSIM ANGELINA JOLIE NO MCU???

Ela será uma das protagonistas de The Eternals, juntamente com Richard Madden, Salma Hayek, Lauren Ridloff, Bryan Tyree Henry, Lia McHugh, Don Lee e Kumail Nanjiani. 

Os Eternals são um grupo de seres quase imortais com super-poderes criados pelos Celestiais (lembram-se de Ego, o pai do Star Lord em Guardiões da Galáxia? É um Celestial). Têm um corpo humanoide porque a sua missão era proteger a Terra dos Deviants. Se gostavam de conhecer um pouco melhor estes heróis, vejam o que escreve o portal Gizmodo - foi-me útil para ficar ainda mais entusiasmada. 

Muitos acreditam que os Eternals sejam o futuro do MCU. Ainda não existem grandes pormenores, mas sabemos que o filme vai estrear em novembro de 2020. 

 

Falcon and the Winter Soldier

Foi uma outra grande novidade: além dos filmes, a Marvel apresentou novas séries que serão exibidas em exclusivo no serviço de streaming Disney+. A primeira a ser revelada, Falcon and the Winter Soldier, chega no outono de 2020. 

O nome é bastante sugestivo. A série vai acompanhar Anthony Mackie e Sebastian Stan, que retornam os papéis de Falcão e Soldado de Inverno. Daniel Bruhl regressa também ao papel do vilão Baron Zemo. 

Nesta fase ainda não existem mais pormenores, mas só falta um ano e pouco, não é?

 

Shang-Chi and the Legend of Ten Rings

Mais uma personagem Marvel que se estreia no grande ecrã! Shang-Chi é um mestre de artes marciais que virou super-herói e apareceu pela primeira vez na banda desenhada em 1973. 

Vai ser protagonizado por Simu Liu e conta também cm a participação de Tony Leung e Awkwafina, que não se sabe ainda que papel terá na trama. Leung será o vilão, Mandarim. Os mais atentos devem lembrar-se do Mandarim em Homem de Ferro 3, o vilão interpretado por Ben Kingsley. Um dos plot twits do filme revelou que Slaterry não era o verdadeiro Mandarim mas sim um ator, e a sua verdadeira identidade ficou esquecida. 

Até agora. Apesar de não se saberem pormenores sobre o enredo, é de esperar que haja algum tipo de ligação a este evento, mas só em fevereiro de 2021 é que vamos ter certezas. 

 

Doctor Strange and Multiverse of Madness

A tão aguardada sequela de Doutor Estranho foi finalmente anunciada, com o regresso de Benedict Cumberbatch no papel de Steve Strange e Scott Derrickson ao leme da realização. 

A quem estava no Hall H, Derrickson anunciou que este ia ser o primeiro filme do MCU com um toque de terror, o que é o suficiente para me deixar curiosa - sobretudo porque o primeiro Doutor Estranho me surpreendeu pela positiva. 

Além das personagens que já pertencem a este universo junta-se a Bruxa Escalate - que é como quem diz, a Wanda Maximoff de Elizabeth Olsen. Os dois vão explorar os multi-universos que têm sido introduzidos nos últimos filmes Marvel e terá uma ligação direta a uma outra grande novidade do MCU… 

Estreia em maio de 2021. 

 

WandaVision

Mais uma série exclusiva do Disney+, desta vez sobre Wanda e Vision e que terá uma ligação direta ao novo filme de Doutor Estranho. 

Além de Elizabeth Olsen, Paul Bettany vai regressar ao papel de Vision para contar o que aconteceu após Os Vingadores: Endgame e como é que Wanda passou os 5 anos anteriores. Monica Rambeau também vai fazer uma participação, interpretada por Teyonah Parris. 

Rambeau foi-nos apresentada em criança em Capitão Marvel, a filha da companheira de Carol Danvers, Maria Rambeau. Na banda desenhada, Monica também ganha super-poderes e torna-se na super-heroína Spectrum, logo é de esperar que haja algum tipo de introdução a como tudo isto aconteceu. 

Já sabem, tudo está ligado neste universo Marvel…

 

Thor: Love and Thunder

O melhor logo, o melhor título e, muito honestamente, aquele pelo qual estou mais entusiasmada! Este será o quarto filme de Thor e, espante-se… O último com o super-herói. 

Chris Hemsworth regressa uma última vez ao papel de Deus do Trovão juntamente com Tessa Thompson no papel de Valquiria, o novo Rei de Asgard depois dos acontecimentos de Endgame. O que nos leva a uma importante novidade: Thompson será a primeira super-heroína LGBTQ, em que o enredo a leva em busca de uma Rainha para governar ao seu lado.

Mas acham que este será o fim de Thor? Não, o machado já tem novo dono. Ou melhor… dona. 

Natalie Portman vai regressar ao MCU para interpretar Lady Thor, a versão feminina de Thor. Para os que seguem a banda desenhada isto não é uma novidade, já que Jane Foster já assumiu esse papel nos quadradinhos. 

E ainda outra boa notícia para nos fazer esperar entusiasticamente por novembro de 2021? Taika Waititi regressa também como realizador, depois de um Thor: Ragnarok que se tornou dos meus preferidos deste universo. 

 

Loki + Hawkeye + What If

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Mais 3 séries a chegar em exclusivo ao Disney+. Pelo menos as duas primeiras é fácil e adivinhar sobre o que é, certo?

Tom Hiddleston e Jeremy Renner regressam aos papéis de Loki e Hawkeye, respetivamente, cada um para protagonizar uma série com o seu nome. Enquanto que o primeiro segue a narrativa introduzida em Endgame (quando vemos Loki a roubar o Tesseract), o segundo vai ser mentor de um outro super-herói sem poderes, Kate Bishop. Ambos estreiam no outono de 2020. 

Já What If será a primeira série de animação do MCU. Na banda desenhada (e nesta série), What If conta uma versão alternativa de alguns momentos cruciais do MCU, mostrando o que poderia ser diferente se algumas decisões e movimentos fossem diferentes. 

Com estreia marcada para o verão de 2021, os atores vão regressar para dar voz às personagens da série.

 

Blade

Um novo filme de Blade, protagonizado por Mahershala Ali? Não, desta ninguém estava à espera. 

Bem, mais ou menos… Há algum tempo que existem rumores de que a Marvel podia estar a ponderar um remake da história, como tem foi com quase todos os seus super-heróis. A verdade é que o filme original de Blade, se bem que inesquecivelmente protagonizado por Wesley Snipes, já é de 1998. Muita coisa mudou entretanto e muitos dos que hoje acompanham as personagens Marvel nunca sequer viram esta versão ou as suas duas sequelas (SHAME). 

Pouco se sabe sobre esta nova versão, apenas que se irá concentrar totalmente no caçador de vampiros. 

 

Mais novidades

Como era de esperar, Pantera Negra, Capitão Marvel e Guardiões da Galáxia viram confirmadas as suas sequelas. Ainda sem data de estreia, é de esperar que seja algures depois de 2021 - demasiado tempo, não é?

Mas o melhor ficou para o fim: numa rápida intervenção, Fiege encerrou o painel do Hall H com a  revelação de que o Quarteto Fantástico vai mesmo regressar e fará parte da Fase 4 do MCU. A estreia deve acontecer também só depois de 2021 e nada se sabe sobre o que aí vem - apenas que é desta que os 4 fantásticos vão receber o tratamento Marvel e quem sabe ter um filme de jeito. 

Será que os X-Men também poderão fazer parte desta reforma?

O Rei Leão (2019) - Longa vida ao Rei

19.07.19 | Maria Juana

Quando se soube que O Rei Leão ia fazer parte das produções live-action da Disney, a primeira pergunta a ser feita foi um ‘Como?’ muito surpreso e confundido. Seria uma adaptação da história com pessoas e no mundo atual? Seria antes uma versão do musical da Broadway para o Cinema? Durante algum tempo, creio que ninguém ponderou um resultado semelhante ao que agora vemos: uma mistura entre animação e mundo real, que nos permite manter a mística original enquanto nos dá o traço de realidade que estes live-action pretendem trazer. 

Nunca foi intenção fazer um remake, daqueles em que os autores mudam a história ou direcionam a narrativa conforme acham melhor. O Rei Leão é um filme demasiado irónico para várias gerações para alguém ter a ousadia de o experimentar. 

Não, aqui o objetivo foi claro: ser realista, homenageando o trabalho, história, atores e cenários originais. 

Por isso, vamos por um momento pôr de lado a estranheza que é ver um documentário da National Geographic com animais que falam. Porque é estranho; numa animação, sabemos que tudo é possível, que podemos pôr um leão a franzir o sobrolho ou a sorrir abertamente. Mas isso não acontece na vida real…

Este limiar entre a realidade e a animação foi, a meu ver, o grande desafio do trabalho de Jon Favreau. O seu papel enquanto realizador não foi tanto o de recriar a sua visão de raíz, mas sim de encontrar as melhores soluções para dar um novo rumo a uma história que todos conhecemos de cor. E nisso, não há como dizer que não tenha sido uma escolha certeira. 

Favreau já tinha mostrado como está mais do que apto para dar uma nova roupagem a personagens que conhecemos bem. Foi ele o responsável por trazer à vida o Homem de Ferro, em 2008 e o Livro da Selva, em 2016, e a cada desafio mostra a sua capacidade em encontrar métodos de trabalho e tecnologias que conseguem proporcionar as melhores experiências na sala de cinema. 

Aqui, não só a tecnologia teve um papel determinante para o seu trabalho, como a escolha do elenco e a sua direção foram determinantes. Se não há forma de mostrar emoção através da expressão facial, é na voz, na capacidade de interpretação que vemos as nuances de qualquer transtorno. 

Não se iludam, não é perfeito. A tecnologia não é perfeita e a opção artística de ter as personagens o mais reais possível traz uma série de dissonâncias cognitivas que é impossível não sentir ao longo de todo o filme. É tudo muito… estranho. Outros gostam de criticar o facto de ser quase uma cópia perfeita do filme original; são os mesmos planos de corte, as mesmas perspetivas, as mesmas emoções… 

 

 

E depois?

O objetivo não era a perfeição. O objetivo era recriar o Rei Leão, mostrar uma história de amor entre o público e estas personagens, diálogos e canções, relembrar porque é que nos apaixona tanto esta história. Nunca foi afirmado que era suposto ser uma coisa diferente do que aquela que conhecemos. 

Temos um elenco incrível a dar voz a personagens incríveis. Continuamos com um argumento coeso nos seus momentos, fiel ao original mas com o seu próprio cunho (as improvisações de Seth Rogen e Billy Eichner são qualquer coisa de genial). Saímos da sala de cinema com uma sensação de dever cumprido porque mesmo com todos os problemas e estranhezas, este é o Rei Leão de que nos lembramos. 

Sou honesta o suficiente para afirmar que as minhas expectativas nunca estiveram sobejamente elevadas para este filme (nem para nenhum live-action da Disney, na verdade) - eu só queria que não estragassem as minhas memórias e aquilo que gosto tanto no Rei Leão. 

Nesse sentido, estou tranquila. Eu ri (muito), eu chorei (não tanto, mas aconteceu), eu apertei a mão a quem estava ao meu lado porque sabia exatamente o que ia sentir na cena seguinte, eu disse as falas para mim própria ainda antes do personagem - tal como faço quando estou a ver o Rei Leão em casa. 

Para mim, isso era tudo o que queria. 

Não é perfeito, mas nenhuma história de amor é. Esta não estava destinada a ser e, ainda assim, foi um momento de cinema que nenhum de nós deverá conseguir esquecer. 

Já agora, aproveitem para rever a banda sonora original. Cada ator traz algo de novo e de tão bom… 

****,5

Vejam o trailer de The King’s Man, a prequela de Kingsman

16.07.19 | Maria Juana

A segunda-feira não podia ter terminado da melhor forma: numa surpresa geral, a 20th Century Fox lançou o primeiro trailer de The King’s Man, a história de origem da primeira agência de espionagem britânica que já tão bem conhecemos - os Kingsman. Protagonizado por Ralph Fiennes e Harris Dickinson, regressamos à Primeira Guerra Mundial para encontrar os nobres espiões.

The King’s Man é o terceiro filme da saga que começou em 2014, com dois filmes protagonizados por Colin Firth e um estreante Taron Egerton e que arrecadou 800 milhões de dólares nas bilheteiras. Se esses nos mostravam a organização nos dias de hoje, com um Setting contemporâneo e altamente centrado nos nossos dias, The King’s Man (e em especial este trailer) mostra-nos a devastação da guerra e um protagonista disposto a fazer de tudo para ajudar o seu país.

Ralph Fiennes é o Duque de Oxford, o impulsionador da história e que direciona o Conrad de Dickinson. Juntos vão enfrentar novos vilões e viver novas aventuras, com certeza carregadas de ação.

Apesar de continuar a existir um duo protagonista, a relação entre os dois e aquilo que os move é diferente do que temos assistido, segundo o próprio Vaughn.

Da mesma forma, este ambiente mais pesado e sério é propositado. Não estamos habituados a ter um semblante tão carregado quando pensamos em Kingsman, mas aqui queremos dar um passo à frente sem esquecer de onde vimos.

Além da dupla, o filme conta ainda com a participação de Daniel Bruhl, Gemma Arterton, Djimon Hounsou, Rhys Ifans, Aaron Taylor-Johnson e Tom Hollander, entre outros.

E como em equipa vencedora, ninguém mexe, Matthew Vaughn regressa ao leme da realização e argumento, juntamente com Jane Goldman. A história, tal como as que a precedem, é baseada na banda desenhada de Mark Millar e Dave Gibbons.

The King’s Man tem estreia marcada para 14 de fevereiro de 2020.

Aos Olhos da Justiça - Um abre-olhos obrigatório e um murro no estômago

13.07.19 | Maria Juana

Sabem aquelas séries ou filmes que ficam convosco? Que se prendem no vosso subconsciente e vos deixam sem saber bem o que pensar ou dizer? Aos Olhos da Justiça é um desses casos. A minisérie de 4 episódios escrita e realizada por Ava Duvernay para a Netflix tem causado sensação - já foi visto por mais de 23 milhões de contas. E há um motivo para isso. 

 

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O principal é a sua história: o enredo segue a história verídica de 5 adolescentes que em 1990 foram considerados culpados de violação e tentativa de homicidio de uma mulher no Central Park, em Nova Iorque. Com idades entre os 14 e os 16 anos, negros e hispânicos, os cinco foram coagidos pela polícia a confessar o crime que não comentaram e só em 2002 foram absolvidos depois do verdadeiro culpado ter confessado.

Era uma história importante o suficiente para chamar a atenção. Mas para descrever bem o tipo de efeito que está a ter, o comentário que oiço mais frequentemente entre amigos e conhecidos é “eu não sei como é que não parei no primeiro episódio, estava mesmo chateado. Mas vê!” 

À hora que publico este texto, ainda só assisti a 3 e estou a ganhar coragem para ver o último. O meu namorado disse-me logo que não conseguia ir além do primeiro sem querer partir a televisão. Não faço binge, porque custa levar um murro no estômago a cada 2 minutos. 

 

A história por detrás da série

Em abril de 1989, um grupo de 30 jovens, na sua maioria afro-americanos, entrou no Central Park, em Nova Iorque, nem todos com as melhores intenções. Alguns dos jovens agrediram e incomodaram quem quer que cruzasse o seu caminho. Os restantes apenas seguiam. 

Nessa mesma noite, o corpo de uma mulher foi encontrado não muito longe de onde o grupo passou. Foi vítima de violação e hospitalizada com vários ferimentos graves. 

Entre os tumultos e os jovens que foram levados pela polícia nessa noite pelos distúrbios que causaram, as autoridades acreditaram que se encontrava o violador. Calhou a rifa da suspeita a cinco desses detidos: Korey Wise, Yusef Salaam, Kevin Richardson, Raymond Santana e Anton McCray. Foram interrogados durante várias horas, sem a presença dos pais ou de um representante maior de idade. No final, considerados culpados, foram levados a assinar uma confissão, mesmo não existindo ADN, impressões digitais, sangue ou sémen que os incriminasse.  

Tudo isto é mostrado na série de Ava DuVernay de uma forma crua e muito direta: todos eles foram levados a confessar pela polícia através de violência psicológica e física. Assustados, foram vítimas de um sistema que precisava acusar alguém de um crime hediondo. E quem iria questionar que cinco negros no meio de um grupo de vândalos eram culpados? 

Numa América ainda racista e altamente viciada, ninguém.

Enquanto assistimos a Aos Olhos da Justiça, vemos discursos a serem editados e provas a serem interpretadas de forma a criar uma narrativa que dava jeito. Vemos como um crime hediondo se torna ainda pior ao tornar a raça e a má companhia num motivo mais do que plausível para cometer um crime. 

DuVernay quer-nos de olhos bem abertos e não tem meias medidas. 

Os Cinco de Central Park no presente, em cima. Em baixo, os atores que os interpretam no momento da acusação. Jharrel Jerome (em baixo, no centro) é o único a repetir o papel, na pele de Korey Wise, nos dois momentos da história. 

 

A realidade e a ficção no presente

12 anos depois do julgamento que sentenciou os cinco a penas de prisão, Matias Reyes confessou ter sido ele o perpetrador do crime. Depois de ser feita uma nova investigação, os cinco foram libertados e receberam uma indemnização do Estado de Nova Iorque. 

Foram, e continuam a ser aos dias de hoje, uma prova viva de como temos de abrir os olhos a qualquer manipulação de que sejamos alvo - seja de provas, por parte de media menos bem intencionados, das próprias instituições. 

Não era o objetivo de DuVernay nem daqueles que participam perpetuar uma ideia de teorias de conspiração, em que não podemos confiar em nada do que nos dizem. Torna-se claro que o seu objetivo era mostrar como tantas vezes tomamos decisões e nos precipitamos a tirar conclusões só porque alguém tem uma certa cor de pele ou se comporta de certa forma. 

A série, escrita e realizada por DuVernay, tem muito poder na sua história. Não era preciso ter um grande poder criativo para a tornar interessante ou alvo de atenção. O que faz diferença é o cuidado que DuVernay teve. Por muitas liberdades criativas que possa ter tido, a mensagem é clara: estes 5 jovens foram acusados pela sua cor da pele. 

É de louvar o trabalho que a realizado aqui tem, bem como toda a sua equipa. Desde a fotografia a toda a escolha de planos, à própria forma como a ação está organizada, é notório que queriam revolta do lado do espectador; queriam que cada um de nós sentisse que aquilo que aconteceu não é normal, não é aceitável, não pode nunca voltar a acontecer. 

Já por mais do que uma vez que a realizadora dá props a plataformas como o Netflix, que permitem aos criadores arriscar no seu conteúdo, contá-lo como querem, no formato que querem. Aos Olhos da Justiça, como a própria referenciou ao New York Times, podia ser um filme e contar exatamente a mesma história. Mas não merece mais do que apenas uma hora e meia da nossa atenção? 

Ava DuVernay usou uma nova plataforma para contar esta história da forma que achava que merecia ser contada. Mais, da forma que sabia que o público ia consumir e apropriar. 

Digo-vos, há poucos filmes que mexem com as nossas emoções como estes episódios de uma hora. Já vi a minha quota parte de filmes verídicos, alguns que contam histórias tão revoltantes quanto estas - todo o testemunho da Segunda Guerra Mundial nos faz querer fechar os olhos. 

Ainda assim, Aos Olhos da Justiça tem uma força muito sua, um poder muito próprio. É recente. Ainda está a acontecer. Todos os dias existem relatos de mais uma vítima de racismo, de mais uma mulher desprezada, de mais uma lei que de alguma forma limita a nossa individualmente (mais do que a nossa liberdade). 

Abrimos os olhos a uma forma de arte que chega até nós e nos conta como nada disto deve ser aceitável. Nada disto deve ser visto ao de leve, numa sala de cinema, como se não tivesse mais consequências. Nós, as pessoas normais que gostam de ir ao cinema e de ver séries, queremos ver conteúdo que nos interessa. Aos Olhos da Justiça não só interessa, como tem a sua quota de incentivo à mudança. 

Vamos abrir os olhos. 

Halle Bailey vai ser Ariel em A Pequena Sereia. E ainda bem!

11.07.19 | Maria Juana

Foi uma das notícias que abalou a semana: Halle Bailey, de 19 anos, foi escolhida para interpretar Ariel no live-action da Disney de A Pequena Sereia.

Ela é cantora e atriz, descoberta pela Beyoncé herself (em conjunto com a irmã, com quem forma a dupla Chloe x Halle), e uma das protagonistas da série de televisão grown-ish. O realizador do filme, Rob Marshall, diz que ela tem todas as características que procurava para o papel . Ainda assim, há toda uma onda na internet que critica a escolha só porque é uma atriz… negra!

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É curioso que esta notícia chegue na mesma semana em que uma senhora publicou no Público um texto que podemos apenas descrever como racista. Um texto em que é dito que o branco é melhor e superior só porque é branco e que todas as outras cores de pele e etnias não são dignas nem conseguem ser iguais. 

Para os que criticam a Disney, a única justificação foi que a Ariel original era branca e ruiva. No seu entender, qualquer atriz escolhida teria de ser igualzinha à versão animada, porque sim. Querem “respeitar” as origens.

São críticas um pouco estranhas e bipolares, já que ninguém questionou a escolha de Melissa McCarthy para o papel de Ursula - e, a não ser que ela tenha mudado muito desde a última vez que a vi, não é roxa!

 

É uma eterna questão: vamos escolher um ator para uma adaptação que encaixe na descrição física, ou que tenha uma interpretação que se adequa ao papel?

Eu prefiro boas interpretações a descrições perfeitas. Um papel não depende da cor da pele, mas sim do que o ator consegue transmitir.

Principalmente quando não existem raízes culturais que de alguma forma não mudem esta perceção nem a história que está a ser contada. É importante conseguirmos distinguir quando de facto isso influencia a personagem, ou quando não faz a diferença - é por isso que é ofensivo escolher a Scarlett Johansson para o papel de uma personagem de anime, ou por que é que foi obrigatório escolher um elenco asiático para o liveaction de Mulan; as raízes da história e dos comportamentos das personagens estão lincados à sua cultura. 

Não acho que isso aconteça com Ariel. Apesar da sua origem nórdica ser clara, isso terá alguma dimensão na sua personalidade e comportamento?

Para Rob Marshall e para a própria Disney, a resposta é um claro não. Bailey foi escolhida pelo seu talento, que faz todo o sentido para a personagem.

Também faz sentido para o mundo em que vivemos. Estamos no século XXI, malta, já não é altura de todos termos oportunidade de sonhar? Olhem para todas as princesas Disney. Quantas é que encaixam no físico de Bailey? Quantas oportunidades teria para viver um sonho destes na sua carreira?

Muito poucas. Pelas minhas contas, apenas uma, se a sua carreira estivesse limitada ao seu físico. 

 

Ainda bem que Halle Bailey pôde concretizar o seu sonho, mantendo em aberto o sonho de tantas outras meninas. Ainda bem que Halle pode mostrar que existem princesas negras - não só para as meninas como ela, mas como para as brancas que percebem que todas somos iguais. 

É bonito quando vivemos num mundo assim e fazemos orelhas mouras às críticas…

 

A produção de A Pequena Sereia vai começar em 2020 e ainda não existe uma data de estreia concreta. Além de Rob Marshall na realização, o video vai contar com a produção de Lin-Manuel Miranda e também com a sua colaboração na banda sonora. 

A Bailey e McCarthy, junta-se também no elenco Jacob Trembley (como Linguado) e Awkwafina como Scuttle, a gaivota que ajuda Ariel na sua aventura.

Este é um dos vários filmes e live action que a Disney tem agendados para os próximos anos. Algumas datas de estreia já estão marcadas, mas só Mulan é que tem um lançamento concreto. 

ZOOM-IN: Em 25 anos, o que mudou em O Rei Leão?

09.07.19 | Maria Juana

Há 25 anos atrás, estreava nas salas de cinema um filme de animação… diferente. Não tinha princesas nem príncipes encantados, daqueles que usam roupas estonteantes e cantam músicas épicas. Não havia um reino mágico, nem magia que tornava os vilões mais fortes ou mais fracos. E, no entanto, era um filme que tinha tudo isso. 

O Rei Leão estreou há 25 anos, produzido por uma Disney com algum receio. Apesar das expectativas estarem relativamente elevadas depois da estreia do primeiro trailer, o estúdio continua a recear que a animação, a história e o facto de se passar totalmente na savana africana pudessem estar à altura. 

Mas esteve. 25 anos depois, não só continua a ser um dos filmes que mais pertencem ao imaginário cinematográfico de qualquer criança e adulto, como desperta um sem número de emoções sempre que assistimos.

Além disso, ainda continua a inspirar artistas, tanto que esta nova versão de 2019 está cheia de escolhas e formas de arte que não eram possíveis há 25 anos. E não falamos apenas da tecnologia utilizada: a alma, a perspetiva sobre a história e o carinho por ela tornam a sua produção uma história de amor, mais do que um remake como os outros.

Só que precisaríamos mesmo dele?

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Há 25 anos, a Disney estava no seu pico de produção e de sucesso. A aposta de Walt Disney estava a dar certo e era certo também que os profissionais dos estúdios eram capazes de trazer ao público animações e histórias apaixonantes para miúdos e graúdos. Porque haveria então tanto receio nas vésperas da estreia de O Rei Leão, é difícil de perceber.

Bem, se considerarmos os riscos para os estúdios, talvez haja alguma justificação. Até então, a Disney tinha-se “limitado” a adaptar argumentos e livros que outros já tinham lançado. Eram histórias conhecidas, já queridas pelo público, cuja responsabilidade da Disney era materializar - como um bom filme de animação faz. 

Mas com O Rei Leão foi diferente. Esta era uma história original, a primeira, aquela que punha à prova não só quem punha as mãos na massa na hora de fazer bonecos, mas também a criatividade de quem escrevia e compunha. 

Hoje sabemos que o risco compensou, depois do sucesso de bilheteira que foi na altura e dos prémios que recebeu. Mais prova ainda são os sentimentos que ainda desperta, como se tivesse sido realizado ontem. É das histórias que ficam, que continuam a fazer sentido anos e anos depois e que, por isso, continuam a fazer parte das nossas vidas. Os leões não mudaram muito, nem as suas motivações nem as conclusões a que chegamos. 

Nem precisamos de algo muito realista para perceber que é inspirado na própria Natureza - até a humana. Se todas as histórias têm uma inspiração em que as cria, porque será aqui de diferente?

Para Jon Favreau, que realizou a versão de 2019, não há diferença. O realizador foi escolhido pela Disney no final de 2016 para realizar o filme depois do sucesso de O Livro da Selva nas bilheteiras - um filme que conseguiu juntar live-action e animação num só. Não, não foi o primeiro (ninguém se esquece de Quem Tramou o Roger Rabit? !), mas o realismo que conseguiu dar ao filme pedia mais. Para O Rei Leão, o objetivo era claro: conseguir regressar ao passado, criando surpresas ao espectador, seja pela forma de imagem como pela própria história. 

 

Favreau já tinha dado mostras de engenho, não só em O Livro da Selva. Revisitou a banda desenhada e trouxe ao grande ecrã o primeiro Homem de Ferro, iniciando o que hoje é um Universo Marvel com 10 anos. Tem olho para o que o público quer, mas ainda mais um amor pelas histórias e por aquilo que podem acrescentar nas nossas vidas. 

Foi por isso, e por querer o maior realismo possível em O Rei Leão, que pensou em tudo ao pormenor - ele e toda a sua equipa, que um filme não é feito apenas por um realizador. Há câmera men, há cinematografos, diretores de fotografia que fazem toda a diferença para que o plano seja o melhor possível; neste caso, há animadores que tornam qualquer objeto em realidade. Para o Rei Leão, houve ainda um método de filmagem quase feito à medida. 

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A equipa de O Rei Leão durante as filmagens

Esta nova versão não é um live-action, mas também não é um filme de animação. Os atores foram filmados a representar cada uma das cenas para dar pistas aos animadores dos seus traços e personalidade, movimentos e postura. No entanto, essas pistas foram aplicadas a personagens animadas, inspiradas em animais verdadeiros. Como Favreau afirma, até pode ser mais feio do que o original, desde que seja o mais real possível. 

Ao contrário dos restantes filmes de animação, este também não foi criado apenas no papel. Tal como num filme tradicional, houve câmaras a rolar, enquanto os personagens (os verdadeiros, os animais) representavam as suas cenas num cenário criado e visto através de óculos de realidade virtual. Nesse cenário, a luz foi ajustada, a captação de movimentos alertada para quando se tinha de ir mais para a esquerda ou mais para a direita e os próprios personagens sofreram alterações, enquanto a equipa passeava pela savana africana como se estivesse mesmo lá.

Passaram dias com óculos de realidade virtual, onde a cena a gravar se desenrolava à sua volta. Cá fora, no mundo real, alguém ajustava sensores e câmaras para que a cena vista nos óculos estivesse impecável. E só depois disso é que os animadores puderam fazer a sua magia. 

A tecnologia está a permitir-nos viver O Rei Leão de forma diferente. Mais do que isso, está a levar os criadores a caminho novos, em que não estamos limitados pela realidade, mas antes a usamos como inspiração sem que isso tire realismo à ação.

Pode parecer estranho porque é que alguém haveria de querer isto. Ou queremos realismo, ou animação, de que serve a mistura? Apesar de não existir uma resposta simples, é fácil compreender que as novas gerações não querem meias medidas. Enquanto que há histórias que a pura ilustração e animação nos contam a história, outras pedem o maior realismo possível que a tecnologia nos permite atingir - não porque as câmaras captam mais ou melhor, mas porque filmam o que não existe. 

 

Este novo O Rei Leão é para a nova geração, mas é também para aqueles que ainda vivem a história com intensidade. É para os que querem ver mais do que um filme de animação, mas continuam a viver no imaginário em que leões e pássaros convivem num reino hamletiano. É para os que ainda não conhecem, e para aqueles que querem revisitar o universo que tanto gostam. 

Não é uma questão de precisar de uma nova versão, mas sim de acrescentar mais do que já foi feito. 

De outra forma, como é que conseguiríamos ter um dueto deste entre o Simba de Donald Glover e a Nala de Beyonce? Mais do que a tecnologia, o cast é impressionante o suficiente para nos fazer não questionar a sua existência. Seth Rogen, Chiwetel Ejiofor, Alfre Woodard, Billy Eicher, John Oliver e o original James Earl Jones são alguns dos nomes que impressionantemente se juntam aos protagonistas. 

Quem não quer assistir a isto?

Eu quero, e quem se quiser juntar a mim pode fazê-lo a partir de 18 de julho. No dia anterior, algumas salas de cinema vão estar a fazer exibições de pré-estreia especiais, para os que não conseguem esperar. 

Vamos passar a falar de TV, sim?

06.07.19 | Maria Juana

Não vou voltar a fazer o discurso de sempre, com a lengalenga de sempre; já perceberam que estive ausente e eu já percebi que é um problema que tenho. 

Independentemente das razões que levaram a essa ausência, gosto de pensar que agora é a sério! Agora é que vamos passar a ter conteúdo regular e interessante, para que qualquer pessoa que goste de ler o que escrevo de facto acredite que vale a pena. 

Então, para me comprometer com isso, fiz alguma alterações ao que acho que este blog devia ser. 

Antes de mais, não o considero tanto um blog. Não sei porquê, sempre considerei um blog uma coisa muito mais pessoa e intimista do que isto que escrevo aqui. Quando comecei o Fui Ao Cinema assumi sempre que seria uma plataforma de conteúdos direcionados para o Cinema, mas também um sítio onde pudesse divagar um pouco mais se necessário. Chamar-lhe blog parece-me, por isso, redutor. 

Outra coisa que mudou foi a forma como vivo o Cinema. Apesar de continuar a considerar que esta Arte tem as suas peculiaridades e não há melhor forma de a viver do que na sala, nos últimos tempos tenho aprendido outras formas de a apreciar e valorizar. Para já, consumo mais cinema em casa - o que já de si é uma grande diferença, mesmo que o meu televisor tenha um tamanho considerável. Depois, consumo outras formas cinematográficas que vão além dos filmes. 

Nomeadamente, séries de TV. 

O surgimento do Netflix, Hulu, HBO ou Amazon Prime, entre tantas outras novas produtoras com poder económico e criativo, trouxe consigo um nova perspetiva sobre aquilo que se faz em televisão. Antes, se um filme que ia diretamente para TV era considerado um falhanço e uma pobreza de espírito, agora esses filmes ganham Óscares. A própria divisão entre atores de Cinema e Televisão, antes muito vincada (com o prestígio todo para aqueles que faziam filmes), agora está cada vez mais ténue. 

Mas ainda bem que assim é. Temos mais histórias e mais produções a aparecer sem a necessidade de estarmos totalmente dependentes de produtoras e estúdios de cinema que só olham para lucro e audiências. O caso de Aniquilação é um ótimo exemplo: quando os estúdios voltaram atrás com a decisão de exibir nas salas de cinema porque os primeiros testes em sala não tiveram críticas positivas, foi antes exibido no Netflix. 

A minha opinião sobre o Cinema, a sua arte e a melhor forma de assistirmos não mudou, só que estou menos limitada a achar que tudo o que são filmes têm de seguir uma determinada norma. Continuo a considerar que todos devemos ir ao cinema com frequencia, da mesma forma que agora acho que uma subscrição do Netflix por mês não sabes o bem que te fazia. 

A Arte muda, as pessoas mudam e com elas mudam os nossos interesses e paixões. O Fui Ao Cinema e o resultado de uma dessas paixões e apenas evoluiu quando eu própria evoluí. 

Isto é a sua evolução.