Monstros Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald – Estamos a perder a magia?
Sinopse: Newt Scamander (Eddie Redmayne) está proibido de sair do Reino Unido, o que o impede de visitar Tina (Katherine Waterson). Mas com Grindelwald (Johnny Depp) à solta, terá de fugir às regras e levar-se novamente à aventura.
Em 2016, o lançamento de Monstros Fanstásticos e Onde Encontrá-los deixou os potterheads (aqueles fãs acérrimos de Harry Potter, onde humildemente me incluo) um pouco apreensivos. Por um lado, teriamos um novo filme do universo potteriano, ainda por cima com argumento da própria J.K Rowling; por outro, um medo imenso que este regresso fosse terrível. E acabou por superar todas as expectativas.
Seria de esperar que a segunda parte desta saga (que sabemos ser de 5 filmes) acompanhasse as expectativas, ou até que as superasse. Mais do que isso, queriamos desesperadamente respostas às perguntas que nos assolaram em 2016 e mais mistérios para resolver. A segunda parte correu-nos bem... a primeira, nem tanto.
É sempre bom regressar ao Wizarding World, seja em que formato for. A existência de uma nova saga, com novos personagens e histórias mas dentro deste mundo, é um presente vindo dos céus. Mas quando não resulta tao bem, o problema pode não ser do universo. No caso de Crimes de Grindelwald a culpa foi de uma direção e storyline que parecem ter sido forçados e pouco explorados como deveriam ser.
Este é o 6º filme de David Yates ao comando do Wizarding World. É o segundo argumento escrito por J.K. Rowling, se bem que sabemos que ela conhece este mundo de trás para a frente. Então o que é que poderá ter acontecido para que Crimes de Grindelwald deixe tanto a desejar?
Sabem o que não deixa nada a desejar? A performance de Jude Law como Albus Dumbledore. Gostei.
Para mim, a resposta é simples: por um lado, houve uma tentativa de inovar a forma como contamos a história; por outro, houve uma necessidade de criar cameos e plot twists que, em vez de criarem quebras-cabeças e nos deixerem curiosos com o que aí vem, criam confusão e uma verdadeira vontade de gritar “porquêeeeeeee?”.
Mas vamos por partes.
O grande forte de Monstros Fantásticos sempre foi aquilo que lhe dá nome: os Monstros. Em 2016, foi muito do que nos impressionou e continua a desempenhar um forte papel aqui. Não nos podemos esquecer que, apesar da base de tudo ser o duelo entre Grindelwald e Dumbledore (não, não é spoiler. Vão ler os livros!), Newt Scamander e os seus bichos são os grandes protagonistas.
Não perdemos isso em Crimes de Grindelwald. Mesmo que mais apagado, Newt continua com um papel determinante, mas o que gosto de ver é que ele é um protagonista que deixa os outros brilharem. Apesar de existirem claras semelhanças entre o seu papel e o de Harry Potter (claramente levados a agir por Dumbledore, claramente com amigos importantes que o ajudam em todas as tarefas), aqui existe uma partilha de protagonismo muito mais democrática e interessante. Newt pode ter respostas improváveis para responder a desafios (Harry nunca foi um feiticeiro brilhante, apenas inteligente), mas está apoiado por um role de personagens “secundárias” que na verdade são tão importantes para a trama quanto ele.
Isso foi muito visível na abordagem que Yates teve neste filme. Com muitos mais close-ups, com planos muito mais fechados, tentou concentrar a nossa atenção nas personagens e nas suas expressões. Na maioria das vezes com sucesso.
Mas se existem personagens com importância, outras aparecem só porque sim. Este e um problema recorrente em Crimes de Grindelwald: coisas que acontecem porque sim. Além de termos uma trama que passe demasiado ao de leve sobre coisas que dariam contexto e corpo à história, são acrescentados pormenores e informações para as quais não vemos utilidade.
Ou seja, parece que nos estão a contar partes da história sem na verdade terem parado para pensar se faria sentido ou se são mesmo relevantes. Há uma sensação de falta de atenção para com pormenores e, sobretudo, de que as peças do puzzle não encaixam. A forma como a história está a ser contada transforma-a mais em fragmentos de pedaços de histórias, do que peças que a constroem.
É claro que alguns destes pormenores nos possam parecer mais gritantes porque não sabemos o que aí vem. Sim, faltam 3 filmes e neles podemos compreender que afinal tudo era importantes. Também é claro que há pontos que gritam plot hole porque conhecemos a história além de Harry Potter – ou vamos mesmo acreditar que a presença de uma certa professora em Hogwarts não pode ser um erro?
Crimes de Grindelwald sofre claramente de problemas de narrativa, seja problema do argumento, da forma como foi dirigido ou editado ou até das nossas expectativas. Não significa que a magia tenha morrido – em 5 filmes, todos serem excelentes era pedir muito; há sempre uma ovelha negra.
Só que é impossível não pensarmos que tudo isto e uma mescla desnecessária quando vemos estes problemas. E é impossível não acreditar que os próximos filmes possam sofrer do mesmo mal: inventar plot twists e conclusões que parecem giras no papel mas que são apenas encher chouriços.
Ninguém estava à espera de mais 5 filmes, OK? Podemos facilmente viver com menos, desde que façam as coisas como deve ser.
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