James Gunn foi despedido de Guardiões da Galáxia, e isso está errado
Esta semana all hell broke loose quando foi anunciado que Disney tinha despedido James Gunn, realizador de Guardiões da Galáxia I e II. Gunn foi acusado de ter feito piadas com assuntos como pedofilia, o 11 de Setembro e violação.
O conteúdo das “piadas” foi divulgado em grande parte da comunicação social, descobertas no Twitter do cineasta, e datam do início da década. Estão naquele limiar entre o humor negro e o politicamente correto que nos é complicado de discernir, mas que neste caso, na minha opinião, o ultrapassam largamente.
Como Ricky Gervais diz no seu especial Netflix Humanity (gente, que maravilha!), é importante percebermos quem é o alvo das piadas – nunca as vítimas, nunca quem é afetado pelo tema. Sou defensora disso e do humor negro, mas até eu acho que Gunn foi longe de mais.
Antes ainda da Disney ter achado o mesmo, Gunn pediu desculpa e declarou que “muitos sabem que no início da minha carreira via-me como provocador. Como já disse em público várias vezes, o meu trabalho e o meu humor evoluiram comigo, enquanto evoluía como pessoa.”
Por norma concordo com este método de despedir os maus da fita – foi por isso que Kevin Spacey foi despedido de House of Cards e Todo o Dinheiro do Mundo, e que Harvey Weinstein ficou no fundo do poço. É importante que a fama e talento não sejam desculpas para que más pessoas sejam bem-sucedidas.
Mas gente, há um limite para tudo nesta vida.
As declarações de James Gunn divulgadas nos últimos tempos foram feitas algures entre 2008 e 2011. Algumas têm mais de 10 anos. Que atire a primeira pedra aquele que não se arrepende de merdas que tenha dito há 10 anos!
Não desculpo em nada as visões e declarações feitas por Gunn; se as fez publicamente, sabe perfeitamente quais sãs as consequências e é alvo de escrutínio. Porém, o que diz no seu comunicado é verdadeiro: faz parte do ser humano evoluir, crescer e aprender, e com isso compreender os erros do passado, ultrapassá-los e não voltar a cometê-los.
É apenas natural que James Gunn não seja a mesma pessoa era há tantos anos atrás. É apenas natural que, tal como a sua visão do mundo mudou, tenham mudado também os seus valores e o seu trabalho, incluindo as suas declarações públicas.
O que a Disney fez, ao culpar Gunn por atitudes feitas há 10 ou 7 anos atrás, é completamente contrário aquilo que a sociedade preconiza. O castigo não deve ser uma forma de impedir o crescimento, mas sim um método para aprendermos com ele. Aliás, como diz o Collider e muito bem, o que a Disney fez foi ir contra o próprio filme do qual despediu Gunn, em que os maus também podem ser bons. E quem nos diz que Gunn não é bom?
Seguindo o raciocínio começado no título deste texto, despedir James Gunn está errado porque para isso tinhamos de despedir todos aqueles que erraram e aprenderam com os seus erros. A diferença entre Gunn e pessoas como Weinstein ou Spacey é que, além desses serem potenciais criminosos, não admitem os seus erros e continuam a viver na sua versão do mundo. Gunn foi apenas um idiota que adimitiu ser idiota e que já não o é, e devemos aceitá-lo.
Em qualquer caso é importante percebermos o contexto, a evolução do indivíduo e a sua postura na vida. Existem ações permanentes que nos fazem perceber que declarações feitas há 10 anos atrás podem continuar a ser persistentes e sinónimo da personalidade e visão de uma pessoa. Essas ações e esse contexto é que devem ser determinantes quando estamos a assumir o caractér de alguém.
Despedir um profissional até agora irrepreensivel só poque era estúpido há 10 anos atrás não faz sentido – e não faz sentido quando deixou de ser estúpido, e deixou de dar voz às opiniões contrárias ao que preconizava.
O nosso passado faz parte de nós, e devemos sempre usá-lo como bandeira da nossa história. No entanto, é a nossa evolução e o nosso presente que nos mostram como é que esse passado nos influenciou, e como poderá influenciar as nossas visões do futuro.
James Gunn foi parte da alma de Guardiões da Galáxia, e um dos motivos que o tornou tão bem sucessido. Foi um homem idiota, que não soube o seu lugar no mundo do humor, mas que tem aprendido com os seus erros. E não deve ser considerado uma besta só porque fez o que era suposto: assumir o passado mas não repeti-lo.
Bestas são aqueles que não conseguem perceber que as suas visões do mundo estão erradas, e continuam a espingardar a sua idiotice.