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Fui ao Cinema... E não comi pipocas!

As aventuras e desventuras de uma miúda que se alimenta de histórias cinematográficas.

Fui ao Cinema... E não comi pipocas!

As aventuras e desventuras de uma miúda que se alimenta de histórias cinematográficas.

James Gunn foi despedido de Guardiões da Galáxia, e isso está errado

24.07.18 | Maria Juana

Esta semana all hell broke loose quando foi anunciado que Disney tinha despedido James Gunn, realizador de Guardiões da Galáxia I e II. Gunn foi acusado de ter feito piadas com assuntos como pedofilia, o 11 de Setembro e violação.

 

O conteúdo das “piadas” foi divulgado em grande parte da comunicação social, descobertas no Twitter do cineasta, e datam do início da década. Estão naquele limiar entre o humor negro e o politicamente correto que nos é complicado de discernir, mas que neste caso, na minha opinião, o ultrapassam largamente.

 

Como Ricky Gervais diz no seu especial Netflix Humanity (gente, que maravilha!), é importante percebermos quem é o alvo das piadas – nunca as vítimas, nunca quem é afetado pelo tema. Sou defensora disso e do humor negro, mas até eu acho que Gunn foi longe de mais.

 

Antes ainda da Disney ter achado o mesmo, Gunn pediu desculpa e declarou que “muitos sabem que no início da minha carreira via-me como provocador. Como já disse em público várias vezes, o meu trabalho e o meu humor evoluiram comigo, enquanto evoluía como pessoa.” 

 

Por norma concordo com este método de despedir os maus da fita – foi por isso que Kevin Spacey foi despedido de House of Cards e Todo o Dinheiro do Mundo, e que Harvey Weinstein ficou no fundo do poço. É importante que a fama e talento não sejam desculpas para que más pessoas sejam bem-sucedidas.

 

Mas gente, há um limite para tudo nesta vida.

 

As declarações de James Gunn divulgadas nos últimos tempos foram feitas algures entre 2008 e 2011. Algumas têm mais de 10 anos. Que atire a primeira pedra aquele que não se arrepende de merdas que tenha dito há 10 anos!

 

Não desculpo em nada as visões e declarações feitas por Gunn; se as fez publicamente, sabe perfeitamente quais sãs as consequências e é alvo de escrutínio. Porém, o que diz no seu comunicado é verdadeiro: faz parte do ser humano evoluir, crescer e aprender, e com isso compreender os erros do passado, ultrapassá-los e não voltar a cometê-los.

 

É apenas natural que James Gunn não seja a mesma pessoa era há tantos anos atrás. É apenas natural que, tal como a sua visão do mundo mudou, tenham mudado também os seus valores e o seu trabalho, incluindo as suas declarações públicas.  

 

O que a Disney fez, ao culpar Gunn por atitudes feitas há 10 ou 7 anos atrás, é completamente contrário aquilo que a sociedade preconiza. O castigo não deve ser uma forma de impedir o crescimento, mas sim um método para aprendermos com ele. Aliás, como diz o Collider e muito bem, o que a Disney fez foi ir contra o próprio filme do qual despediu Gunn, em que os maus também podem ser bons. E quem nos diz que Gunn não é bom? 

Seguindo o raciocínio começado no título deste texto, despedir James Gunn está errado porque para isso tinhamos de despedir todos aqueles que erraram e aprenderam com os seus erros. A diferença entre Gunn e pessoas como Weinstein ou Spacey é que, além desses serem potenciais criminosos, não admitem os seus erros e continuam a viver na sua versão do mundo. Gunn foi apenas um idiota que adimitiu ser idiota e que já não o é, e devemos aceitá-lo.

 

Em qualquer caso é importante percebermos o contexto, a evolução do indivíduo e a sua postura na vida. Existem ações permanentes que nos fazem perceber que declarações feitas há 10 anos atrás podem continuar a ser persistentes e sinónimo da personalidade e visão de uma pessoa. Essas ações e esse contexto é que devem ser determinantes quando estamos a assumir o caractér de alguém.

 

Despedir um profissional até agora irrepreensivel só poque era estúpido há 10 anos atrás não faz sentido – e não faz sentido quando deixou de ser estúpido, e deixou de dar voz às opiniões contrárias ao que preconizava.

 

O nosso passado faz parte de nós, e devemos sempre usá-lo como bandeira da nossa história. No entanto, é a nossa evolução e o nosso presente que nos mostram como é que esse passado nos influenciou, e como poderá influenciar as nossas visões do futuro.

 

James Gunn foi parte da alma de Guardiões da Galáxia, e um dos motivos que o tornou tão bem sucessido. Foi um homem idiota, que não soube o seu lugar no mundo do humor, mas que tem aprendido com os seus erros. E não deve ser considerado uma besta só porque fez o que era suposto: assumir o passado mas não repeti-lo.

 

Bestas são aqueles que não conseguem perceber que as suas visões do mundo estão erradas, e continuam a espingardar a sua idiotice.

Não vou ao cinema há 3 meses – uma aventura

24.07.18 | Maria Juana

A 16 de maio publiquei neste sítio aquele que foi provavelmente dos últimos (se não o último) filme que assisti na sala de cinema. Chama-se Deadpool 2. Conhecem? Quase que já é história antiga.

 

Mas não, só tem quase três meses. Três longos meses, ausente das salas e da emoção de assistir a um novo filme na sala e a escrever sobre ele.

 

Acho que nunca tive tanto tempo sem ir ao cinema. Sempre me orgulhei de ser uma assídua frequentadora, e sempre dei graças pela possibilidade de ainda poder abrir a carteira a algo que nos últimos anos se tornou um luxo. Por isso, chegar à conclusão de que passou todo este tempo sem pôr os pés neste sítio, não é algo que goste de admitir a mim mesma.

 

E o pior é que sei claramente qual é o motivo. Por muito que saibamos que somos sempre os responsáveis pelas nossas escolhas, é bom podermos culpar alguém além da nossa pessoa – a falta de tempo devido a excesso de trabalho, pouco dinheiro, férias, ausências da cidade... Tudo razões muito plausíveis e verossimeis.

 

Mas altamente erradas.

 

Não tenho ido ao cinema porque não quero. Sucumbi à confortabilidade de ter Netflix diretamente na TV, e a uma infidável oferta de séries, especiais de comédia e filmes. Deixei-me levar pela preguiça de saber que tenho de estacionar o carro 3 quilómetros da porta de casa porque moro num prédio sem garagem. E o pior de tudo, fiquei sem cartão NOS.

 

Sim, sou eu e a minha preguiça as responsáveis por 3 meses de ausência.  Nem sei o que está atualmente em cena! Deixei passar as estreias de Han Solo, Parque Jurássico e Os Incríveis 2, e tenho visto só alguns trailers que aparecem no feed de Facebook.

 

Enquanto ser humano orgulhoso que sou, que gostava de fazer vida disto de escrever sobre cinema, custa-me admitir que sou responsável pela minha própria ausência. Então ando para aqui a dizer que é paixão, e ao fim de algumas adversidades desisto?

 

Que raio de paixão é esta, então? Será volátil, que aparece de vez em quando, quando estou para aí virada?

 

O facto de não ir ao cinema não me fez questionar a paixão pela arte de uma forma tão premente. No entanto, fez-me sim pensar no próprio ato, e na forma como levo tão a sério essa experiência.

 

A verdade é que já disse por aqui mais do que uma vez que para mim ir ao cinema é assistir ao filme na sua plenitude. Porém, as circunstâncias da vida por vezes fazem-nos repensar que coisas que achavamos indispensáveis podem, afinal, ser apenas parte do todo.

 

Ou seja, ando à procura de novas formas de ver Cinema, sem que tenha de me obrigar a frequentar as salas todas as semanas.

 

Não é fácil. Nem é bonito, sobretudo quando passamos parte da nossa vida a orgulhar-mo-nos de algo que tomavamos como garantido, e que hoje questionamos.

 

Mas se há algo que esta coisa da vida nos ensina é que não podemos tomar nada como garantido.

 

Eu sei que este texto pode parecer demasiado filosófico e profundo, sobretudo quando estamos a falar apenas de uma ida ao cinema. Ninguém morreu, ninguém ficou doente... A única coisa de grave que aconteceu é que uma miúda com a mania que percebe da coisa deixou de ir ao cinema.

 

Só que é nas pequenas coisas que por vezes vamos buscar algumas respostas para questões mais essenciais que nos têm assaltado. E este, para mim, é um desses casos.

 

Não ir ao cinema durnte 3 meses fez-me pensar nas prioridades que marco na minha vida, e que talvez esteja na altura de as mudar. Tenho sofrido várias mudanças, e parece que não me adaptei totalmente ao que exigem. Refletir sobre um assunto tão trivial ajudou-me a ver essa falha – e que está na hora de a enfrentar.

 

Por isso tem mesmo sido uma aventura não ir ao cinema há tanto tempo, sobretudo porque significa que o meu dia-a-dia está muito mais diferente do que aquilo que imaginava. É uma nova aventura, mas como todas as que vivemos me vai fazer chegar a um destino inesperado.