Terminou mais uma award season. Foram meses de expectativa, outros tantos de preparação, e cá estamos para digerir o facto de que A Forma de Água foi considerado o melhor filme de 2017.
Pela falta de #RoadToTheOscars que encontram na homepage deste blog, podem perceber que a maratona não correu como o esperado. Não, não consegui ver todos os filmes, e por isso parte de mim acha que não deve discutir os resultados da noite passada.
A outra parte continua a não conseguir perceber como é que o Christopher Nolna continua sem estatueta. Mas vocês viram o Dunkirk? É bom que A Forma da Água seja alguma coisa de jeito, se não a minha relação com os Óscares vai ter de mudar...
Se bem que há alguns anos que anda tremida. Apesar de continuar a adorar que existam noites como estas em que toda a gente se junta para celebrar o Cinema, a importância dos Óscares é altamente discutível.
Por isso, o que gosto mesmo é de assistir ao espetáculo e ver passar os modelitos.
Se esperavam encontrar uma lista com todos os vencedores, este não é o lugar. Contudo porém, o que vamos fazer é esmiuçar o que aconteceu ontem à noite, e depenar os melhores momentos.
Ou pelo menos aqueles que continuo a adorar.
- A malta do E! continua a pôr os pés pelas mãos
Para ver passar modelos, o E! costuma ser o canal onde me ligo. Não tenho paciência para procurar um stream online, e é o único canal (que eu saiba) em Portugal que tem esta preview.
O que me cansa, porque mesmo quando alguém tenta falar sobre o quão bom um filme ou atrizes são, alguém começa a usar adjetivos como “tão bom” e “adorei”, enquanto que para descrever o vestido parece que memorizaram o dicionário Oxford.
Eu sei que vocês gostam é de falar das roupas, mas já não deviam ter aprendido?
- A SIC tem a mania que está em Los Angeles...
Fazer uma festa de passadeira vermelha quando o destino é uma sala de cinema dentro de um centro comercial é só triste. O aparato todo na preview da cerimónia, com a presença de famosos que nem sabem dizer quem são os nomeados para Melhor Filme é só triste.
Mas os famosos que iam para comer iam felizes. Yey!
- ... e continua sem perceber que não queremos comentários por cima da emissão
Again, eu sou muito preguiçosa. Não tenho paciência para procurar um stream online, e assistir à cerimónia na SIC permite-me estar sentada no sofá a olhar para a TV.
Só que também significa que tenho de levar com aqueles comentários dos especialistas da SIC. Se acontecesse apenas durante os intervalos, era na boa. Mas este ano, além de comentarem por cima da emissão, cortaram parte dos segmentos para poderem falar à vontade.
Isso não se faz. É rude.
- A Rita Moreno usou o mesmo vestido em 1962. Continua fantástico
Em 1962, Rita Moreno era nomeada para o Óscar de Melhor Atriz Secundária pelo seu papel em West Side Story. A sua interpretação da latina que gostava de viver na América valeu-lhe a estatueta, mas ontem o que deu que falar foi o vestido.
Porque ela levou o mesmo. Igual, ligeiramente alterado, mas exatamente o mesmo vestido. E continuou linda e totalmente arrasadora.
Não sei se é um abre olhos para as mulheres desta vida que já não conseguem entrar nas saias que compraram há uma semana (shame on me), ou se para aquelas que continuam a achar que reciclar é errado.
- Jimmy Kimmel é o homem dos monólogos
Há quem entre nos Óscares com grandes números musicais. Há quem faça piadas, mande uma laracha ou duas. E depois há Jimmy Kimmel, que consegue ter piada e ser sério ao mesmo tempo.
Ellen DeGeneres pode continuar a ser a minha host preferida, mas quando Kimmel goza tantas vezes com o engano do ano passado que se torna cansativo, é porque alguma coisa está a correr bem.
- O tempo acabou. Já todos percebemos
Ou será que percebemos mesmo? Como era de esperar, os discursos e monólogos sobre os movimentos Time’s Up e Me Too estiveram em destaque na noite passada, e ainda bem. Já estava na hora de que as questões de igualdade e representatividade fossem discutidas e trazidas a público, por isso é com um pequeno orgulho feminista que vejo tal a acontecer.
Até pode parecer demasiado, mas a verdade é que estava na hora de o panorama mudar. E se para isso temos de trazer uns quantos discursos quase à força, que seja.
- Também já percebemos que há muitos mexicanos na américa
Mas se pensam que o movimento feminista foi aquele que mais se fez ouvir esta noite, estão enganados. A minoria a levar a taça são... os mexicanos!
Com a estreia de Coco e a ideia peregrina de Trump de construir um muro entre os Estados Unidos e o México, estava-se mesmo a ver que ia acontecer. Se o Óscar fizesse 15 e não 90 anos, e fosse menina, a noite de ontem tinha sido uma verdadeira quinceanera (Google it).
Houve elogios à etnicidade, críticas a Trump, e até foi a história de um mexicano a ganhar o maior prémio da noite. Coincidência?
- Jordan Peele, everybody. Jordan FU***** PEELE!
Apesar de estar secretamente a torcer para que Três Cartazes ganhasse o prémio de Melhor Filme, e de Nolan ganhar o de Melhor Realizador, Jordan Peele era o meu favorito na categoria de Melhor Argumento Original.
Ele foi o homem por detrás de Foge!, aquele filme genial do qual eu não consigo parar de pensar. Foi ele a cabeça pensadora que conseguiu criar um enredo inteligente, cómico, assustador e tão socialmente subtil, que nos fez pensar em coisas importantes sem nos apercebermos.
Isso merece todos os Óscares que há para dar, e mais alguma coisa.
- Queremos Tiffany Haddish e Maya Rudolph a apresentar em 2019
Foi dos segmentos mais engraçados da noite, e não porque alguém se enganou nas linhas ou no prémio a entregar. As atrizes Tiffany Haddish e Maya Rudolph foram escolhidas para apresentar duas categorias, e a comédia reinou. Elas contaram piadas, elas foram naturais, e mostraram-nos que as mulheres, mais do que conseguirem ser engraçadas, são autênticos furacões.
- Emma Stone, a rainha do shade
Eu sou fã de Emma Stone há muito tempo, mas ontem tivemos um momento. Um momento em que abri os olhos (depois de adormecer durante uns minutos) e pude ouvir um dos maiores shades desta noite.
Quando falava sobre os nomeados para Melhor Realizador, fez questão de mencionar o fantástico trabalho destes homens e de Greta Gerwig, dizendo o nome da autora de Ladybird merecendo todo o seu destaque.
Yes, Emma. Yes.
- E Frances McDormand, a rainha de tudo
Houve ótimos discursos durante a cerimónia. Houve discursos sobre a diversidade de raças em Hollywood, houve discursos sobre não deixar de sonhar. E depois houve Frances McDormand, que conseguiu que todas as mulheres nomeadas se levantassem e mostrassem a sua força. Estamos aqui, e ninguém nos vai calar.
- E não é que ganhou o mexicano?
Esta frase parece muito racista, eu admito. Só que é a única que me ocorre depois de ver o que aconteceu esta noite – na noite em que a cultura mexicana foi apreciada, ganhou a história inventada por um mexicano!
Eu ainda não vi A Forma da Água, confesso. Só conheço as críticas e opiniões daqueles que já viram, e essas sabemos que podem divergir muito de pessoa para pessoa. Só que as opiniões que leio, e o que sinto de forma geral em relação à história, fazem-me ficar com a impressão de que este não é um daqueles filmes para ser considerado dos melhores do ano.
Havia histórias tão fortes... Importantes marcos, filmes extraordinariamente bem feitos, filmes espetacularmente fantásticos. E podem dizer-me que é o poder da fantasia e do amor, tudo muito importante e necessário, que eu vou continuar sem ficar totalmente convencida.
Mas é a vida, não é? E são os Óscares, esta cerimónia tão previsível e glamorosa que todos os anos nos prende à televisão. E todos os nãos me faz arrepender de ter ficado acordada até tão tarde...