EM DVD: Mulher Maravilha não é só um “bom filme”, James Cameron
Quando Mulher Maravilha chegou às salas de cinema, fiquei possessa por não ter conseguido assistir. Todas as críticas eram muito favoráveis, não só sobre o filme em si, mas sobre o que representa para a evolução do papel da mulher no cinema.
Agora que já está disponível em DVD, finalmente pus-lhe os olhos em cima. E que olhos, senhores!
Assistir a Mulher Maravilha é como dar uma nova vida aos filmes de super-heróis. Ela é nova, é diferente e preseverante. É uma amazona, que sempre viveu e treinou para proteger a sua ilha e a humanidade. Isolada, ela é a inocente guerreira obrigada a lidar com a realidade do mundo além das suas fronteiras quando assume a missão de proteger os humanos de um ser maligno e que se alimenta do caos.
Ela é um fôlego fresco e querido neste mundo da pipoca.
Além da sua história repleta de mitologia e ação, é um filme extremamente equilibrado e muito bem feito. Apesar de ser sobre uma super-heroína como tantos outros, não cai naqueles facilistismos e estereótipos de que uma mulher tem de se fingir ou muito forte, ou muito emocional, para conseguir chegar onde quer. Nem tenta que seja algo mais do que aquilo que verdadeiramente é: um ser humano, como Bruce Wayne ou Steve Rogers.
Diana é quase realista. Mesmo sendo figura mitológica, é humana. Não é mulher, é um ser humano, com tudo o que isso implica. Só que tem poderes especiais que usa para salvar o mundo.
Mulher Maravilha, enquanto filme, fez História. Foi o filme com mais sucesso de bilheteira realizado por uma mulher e com uma mulher como protagonista. E isso é um feito do caraças.
Menos para James Cameron. O senhor, que anda ocupado a filmar duas (porque o primeiro filme não bastava) sequelas de Avatar em simultâneo, desde o verão que não tem medo de dizer a sua opinião Mulher Maravilha: para ele, é apenas um bom filme.
Na altura em que o filme saiu, Cameron disse em entrevista que Mulher Maravilha era um “passo atrás” na forma como as mulheres são vistas em Hollywood. Para ele, ela continua a ser “um ícone objetificado, e é o que a Hollywood dos homens faz sempre.”
Esta semana, o senhor reitera as suas palavras, acrescentando que o facto de Gal Gadot ter sido Miss Israel e andar com um corpete é prova suficiente para as suas palavras. Que é como quem diz que ela é apenas bonita de mais.
Para já, e como Patty Jenkins (a realizadora de Mulher Maravilha) respondeu e muito bem, deve ser complicado para Cameron perceber as repercussões da presença de Diana no grande ecrã porque, simplesmente, ele não é uma mulher. Torna-se complicado assim pensar como uma.
Mas que ele defenda que as mulheres têm de ter papéis mais fortes no Cinema, tudo bem, eu concordo. Só não concordo quando ele diz que Sarah Connor era mais forte do que Diana, só porque andava de calças e pistola na mão.
O facto de Mulher Maravilha ter sido um sucesso tão grande foi porque recebeu o mesmo tratamento que o Super-Homem, Batman, Thor, Homem de Ferro e todos os super-heróis de que se lembrem. Independentemente de ser uma mulher, o que prevaleceu foi a sua personalidade determinada e forte, e a capacidade de utilizar as suas emoções para salvar o mundo.
Quando Henry Cavill apareceu como Super-Homem as mulheres suspiraram. Muitas namoradas continuam a concordar em ver os filmes da Marvel porque o Capitão América e o Thor são dois pedaços de homem que nos levam ao paraíso. Se a Mulher Maravilha tem esse efeito no público masculino, epá, não podemos evitar.
Porem, ela não utiliza o seu corpo ou imagem para sua vantagem – tal como nenhum deles faz. Se o fato podia não ser um corpete? Podia, mas não lhe acrescentaria nada.
O Batman começou a ser um vingador porque viu os pais morrer. Clark Kent está em constante preocupação com a mãe. Um herói não tem de desistir das suas emoções para ser forte ou determinado – tem de saber agir com elas.
Para mim, ver Mulher Maravilha foi ver uma figura feminina a, para variar, ter um tratamento semelhante ao dos seus companheiros homens. Ela não ficou presa a estereótipos emocionais, não fugiu ao papel de mulher, e assumiu-se com a mesma força e respeito que todas as mulheres devem ser.
Por isso, caro James Cameron, Mulher Maravilha não é apenas um bom filme. É um filme de viragem. É um filme que mostra que não interessa se tens pénis ou vagina, a perceção que deve existir dos valores e potencialidades de cada um vem do interior, não do sexo ou concepções de género dadas pela sociedade.
Agora acorda, começa a pensar nos teus filmes como deve ser, e deixa os dos outros em paz – ao menos ainda não fizeram rip-offs de filmes da Disney mascarados de histórias revolucionárias.