Batman e Tim Burton – uma história de amor
No ido ano de 1989, depois de já nos ter agraciado com coisas tão geniais quanto Beetlejuice, Tim Burton decide fazer das suas e dar vida a um clássico: Batman, o homem-morcego, o herói improvável que conquistou os nossos corações mais uma vez. O resultado: não um, mas dois filmes de culto que nos mostraram que os super-heróis - principalmente aqueles com um lado negro - podem, afinal, dar filmes fixes.
Ao longo da sua carreira, Burton sempre nos habitou a histórias complexas e, simultaneamente, simples, cheias de fantasia, humor negro e irreverência. A sua adaptação de Batman não foi diferente, sobretudo porque foi buscar um dos inimigos mais extraordinários do morcego: Joker, o maníaco que adoramos odiar, perfeitamente interpretado por Jack Nicholson (se bem que o papel chegou a estar pensado para Robin Williams).
Marcou uma época. Mais do que isso, marcou a história do cinema de super-heróis. Burton, como não podia deixar de ser, fez do Batman uma figura negra e adulta, e pôs de lado a ideia de que os super-heróis fazem tudo pelo bem da Humanidade. Até então, o único filme para as massas com um super-herói tinha sido Super-Homem, em 1978 – o virtuoso extraterrestre tão humilde que luta pela verdade, a justiça, e o jeito americano.
O Batman não. Ele tem a sua própria motivação. Ele tem demónios que o atormentam de noite, e é contra eles que luta. Ele procura vingança contra aquele que matou os pais e mudou para sempre a sua vida – e procura vingança em todos os criminosos que possam fazer isso a outro cidadão de Gotham. Que se dane a verdade e american way: Batman é apenas humano, imperfeito, e quer fazer justiça pelas próprias mãos.
Li algures pela internet que, se Burton não tivesse pegado neste Batman, era pouco provável que pudéssemos hoje ter filmes de super-heróis tão negros, completos e adultos (às vezes, até a mais) como os que temos atualmente. Ele desbravou caminho e fez da fantasia da banda desenhada uma criação para as massas, que não era assim tão para crianças e adolescentes.
E fê-lo tão bem que repetiu a proeza no belo ano de 1992, com Batman Regressa. Regressou também o fantástico Michael Keaton (que, ao contrário da sua personagem em Birdman, que fez sequelas atrás de sequelas com o papel que o consagrou, recusou participar num terceiro filme de Batman, que acabou por contar com Val Kilmer no principal papel e Burton apenas como produtor), para bem das nossas preces. E hoje, que se celebra o aniversário do lançamento oficial do primeiro filme, celebramos também todas as coisas boas que esta dupla nos trouxe.
Uma delas foi um Batman que gostamos mesmo de ver no cinema. Um Batman completo, com falhas e imperfeições, que fica totalmente distante da imagem dos restantes heróis. Mas ele não é como eles, e se há pessoa para mostrar o seu lado negro é Burton (e talvez Christopher Nolan, cuja trilogia foi o mostrar que ainda havia muito para ver do morcegão).
Depois de Batman, Burton continuou a agraciar-nos com obras-primas como Eduardo Mãos de Tesoura (1990), o eterno fantasticamente estranho Marte Ataca! (1996) e O Grande Peixe (2003), entre tantos que nos ficaram na memória. Que o senhor sabe o que faz, também nós o sabemos há muito. Que a sua adaptação de uma personagem mainstream fosse o benchmark de toda uma indústria, talvez não.
O Batman original é uma referência para qualquer fã do morcego – mesmo com os filmes de Nolan a arrebatar corações, continua a ser um dos prediletos. Pelo menos, aqui para o sítio, é daqueles que se vêem vezes e vezes sem conta, sem nunca perder a vontade.
Hoje, agradecemos a Burton a sua ousadia e irreverência. E damos a dica: estamos ansiosamente à espera de Beetlejuice 2.