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Fui ao Cinema... E não comi pipocas!

As aventuras e desventuras de uma miúda que se alimenta de histórias cinematográficas.

Fui ao Cinema... E não comi pipocas!

As aventuras e desventuras de uma miúda que se alimenta de histórias cinematográficas.

Batman e Tim Burton – uma história de amor

23.06.16 | Maria Juana

No ido ano de 1989, depois de já nos ter agraciado com coisas tão geniais quanto Beetlejuice, Tim Burton decide fazer das suas e dar vida a um clássico: Batman, o homem-morcego, o herói improvável que conquistou os nossos corações mais uma vez. O resultado: não um, mas dois filmes de culto que nos mostraram que os super-heróis - principalmente aqueles com um lado negro - podem, afinal, dar filmes fixes.

 

Ao longo da sua carreira, Burton sempre nos habitou a histórias complexas e, simultaneamente, simples, cheias de fantasia, humor negro e irreverência. A sua adaptação de Batman não foi diferente, sobretudo porque foi buscar um dos inimigos mais extraordinários do morcego: Joker, o maníaco que adoramos odiar, perfeitamente interpretado por Jack Nicholson (se bem que o papel chegou a estar pensado para Robin Williams).

 

 

Marcou uma época. Mais do que isso, marcou a história do cinema de super-heróis. Burton, como não podia deixar de ser, fez do Batman uma figura negra e adulta, e pôs de lado a ideia de que os super-heróis fazem tudo pelo bem da Humanidade. Até então, o único filme para as massas com um super-herói tinha sido Super-Homem, em 1978 – o virtuoso extraterrestre tão humilde que luta pela verdade, a justiça, e o jeito americano.

 

O Batman não. Ele tem a sua própria motivação. Ele tem demónios que o atormentam de noite, e é contra eles que luta. Ele procura vingança contra aquele que matou os pais e mudou para sempre a sua vida – e procura vingança em todos os criminosos que possam fazer isso a outro cidadão de Gotham. Que se dane a verdade e american way: Batman é apenas humano, imperfeito, e quer fazer justiça pelas próprias mãos.

 

Li algures pela internet que, se Burton não tivesse pegado neste Batman, era pouco provável que pudéssemos hoje ter filmes de super-heróis tão negros, completos e adultos (às vezes, até a mais) como os que temos atualmente. Ele desbravou caminho e fez da fantasia da banda desenhada uma criação para as massas, que não era assim tão para crianças e adolescentes.

 

 

 

E fê-lo tão bem que repetiu a proeza no belo ano de 1992, com Batman Regressa. Regressou também o fantástico Michael Keaton (que, ao contrário da sua personagem em Birdman, que fez sequelas atrás de sequelas com o papel que o consagrou, recusou participar num terceiro filme de Batman, que acabou por contar com Val Kilmer no principal papel e Burton apenas como produtor), para bem das nossas preces. E hoje, que se celebra o aniversário do lançamento oficial do primeiro filme, celebramos também todas as coisas boas que esta dupla nos trouxe.

 

Uma delas foi um Batman que gostamos mesmo de ver no cinema. Um Batman completo, com falhas e imperfeições, que fica totalmente distante da imagem dos restantes heróis. Mas ele não é como eles, e se há pessoa para mostrar o seu lado negro é Burton (e talvez Christopher Nolan, cuja trilogia foi o mostrar que ainda havia muito para ver do morcegão).

 

 

 

Depois de Batman, Burton continuou a agraciar-nos com obras-primas como Eduardo Mãos de Tesoura (1990), o eterno fantasticamente estranho Marte Ataca! (1996) e O Grande Peixe (2003), entre tantos que nos ficaram na memória. Que o senhor sabe o que faz, também nós o sabemos há muito. Que a sua adaptação de uma personagem mainstream fosse o benchmark de toda uma indústria, talvez não.

 

O Batman original é uma referência para qualquer fã do morcego – mesmo com os filmes de Nolan a arrebatar corações, continua a ser um dos prediletos. Pelo menos, aqui para o sítio, é daqueles que se vêem vezes e vezes sem conta, sem nunca perder a vontade.

 

Hoje, agradecemos a Burton a sua ousadia e irreverência. E damos a dica: estamos ansiosamente à espera de Beetlejuice 2.

Meryl Streep: 67 anos de talento

22.06.16 | Maria Juana

Quando pensei em escrever esta entrada (uma celebração que não podia deixar de fazer), tentei lembrar-me do primeiro filme que vi com Meryl Streep. Terá sido Kramer Contra Kramer (1979)? Talvez Lemony Snicket's: Uma Série de Desgraças (2004)? Tentei, tentei, e não me lembrei. Até que surge um nome: A Morte Fica-vos Tão Bem!

 

Não sei se terá sido o filme de 1992 a introduzir-me à arte e dom de adorar lady Streep do fundo do coração, mas mantenho guardada a imagem do seu corpo elegante com a cabeça virada ao contrário.

 

 

A Morte Fica-vos Tão Bem não é, de longe, o melhor exemplo de trabalho e talento de uma atriz que já foi nomeada 19 vezes para um Óscar da Academia (levando para casa apenas três estatuetas). É talvez dos mais fraquitos, cinematograficamente falando, mas que mostra que Streep é feita de uma versatilidade que não mora em muitos dos atores de Hollywood.

 

Ela é comédias, ela é drama, ela é até musicais – ou não se querem lembrar que foi estrela da adaptação para cinema de Mamma Mia? The Winner Takes it All, o clássico dos Abba, nunca teve uma interpretação tão sentida (para o melhor e para o pior)!

 

É incrível ver como um talento como este pode caber numa só pessoa. Meryl Streep não é apenas uma atriz – é, e não tenho receio de o dizer, uma das melhores atrizes de sempre. Com um simples olhar, ela diz-nos tudo o que precisamos saber, e talvez até mais. E não é isso que um bom ator tem de fazer?

 

 

Mais do que dizer diálogos, tem de mostrar que isto de representar emoções também é importante. Está triste? Que mostre! Está alegre? Que pule de alegria e nos diga isso mesmo!

 

Enquanto fã de cinema, é isto que quero ver num filme: histórias poderosas, interpretadas por atores que tornam as suas personagens ainda mais poderosas. Enquanto aspirante a atriz amadora (se assim me posso considerar depois de ter participado numa peça ou outra amadora), é exemplo que encontro em trabalhos que nos fazem rir ou chorar só de olhar para o semblante do ator.

 

A minha carreira de atriz pode ter terminado antes de ter sequer começado, mas continuo a adorar bons filmes, com personagens fantásticas, e apreciar o trabalho de atores infinitamente mais talentosos.

 

 

Meryl Streep é uma daquelas que me prende ao ecrã só de aparecer. Ela chega, leve e subitamente, e os olhares da sala viram-se para si. E não, não apenas porque está no ecrã gigante à nossa frente, mas porque a sua energia chega até nós.

 

Com 67 anos de idade, Streep continua a encantar, e continuará enquanto conseguir. E eu só agradeço por isso. Parabéns!

5 filmes onde não esperavam ver estrelas pop

16.06.16 | Maria Juana

Abri o computador com o objetivo do costume: descobrir o que se passa no mundo. E com isso não estou só a falar de notícias, mas também das cusquices do Facebook.

 

A verdade é que, mais do que as fotos das férias dos amigos, encontrei lá pelo meio uma notícia que me intrigou: Steven Spielberg escolheu como ator do seu próximo filme, Rogue Player One, um artista pop japonês.

 

Para os interessados, chama-se Win Morisaki e é vocalista de uma banda chamada PrizmaX. É também ator no seu país de origem, e esta será a sua estreia em Hollywood. O que poderá ter isto de interessante, perguntam? É que no seguimento desta questão, deparei-me com outra novidade: também Christopher Nolan quer uma estrela pop no seu próximo filme: Harry Styles.

 

Os mais atentos já descobriram a minha incredulidade. Sim, estamos a falar do moço dos One Direction, cuja ação mais recente a tomar conta da internet foi o facto de... ter cortado o cabelo. Sim, isto foi notícia.

 

Não obstante o mundo noticioso que temos, descobrir que dois cineastas de topo estão dispostos a apostar em improváveis estrelas da música para entrar nos seus novos filmes fez-me pensar: será que existem mais casos de inesperadas participações em conhecidos marcos do cinema?

 

Uma pequena pesquisa no maravilhoso mundo da internet deu-me a conhecer cinco impressionantes casos. Ei-los:

 

 

  • Battleship: Batalha Naval (2013)

 

 

 

Comecemos por um relativamente recente. O nome não deixa muito à imaginação: trata-se de um filme sobre um navio da marinha norte-americana que tem de defrontar um frota desconhecida, e salvar a pele.

 

Um pequeno resumo da ação, que além de contar com Liam Neeson e Alexander Skarsgard no elenco, tem também a participação de... Rihanna, a good girl gone bad que todos conhecemos.

 

A participação é relevante o suficiente para a artista merecer várias imagens no trailer final, e até linhas de diálogo. São bem interpretadas? É discutível, mas uma coisa é certa: não esperava ver Rihanna no cinema, muito menos no papel de uma mulher num navio de guerra.

 

Serei só eu?

 

 

  • Mad Max 3: Além da Cúpula do Trovão (1985)

 

 

 

Antes de Charlize Theron e Tom Hardy percorrerem o mundo criado por George Miller, foi Mel Gibson quem o trilhou. Gibson foi o Mad Max original, e aquele que viu o herói dos filmes de culto... Bem, ficar louco.

 

Foram três os filmes que Gibson protagonizou, sempre escritos e realizados por Miller. Mas houve um em que a sua principal inimiga tinha as pernas mais famosas do mundo: Tina Turner.

 

Foi no terceiro capítulo da saga, em que já temos Max como herói improvável, que Turner dá um ar de sua graça. Foi Miller quem a escolheu, porque achava que o facto de todos gostarem dela fazia com que fosse mais fácil acreditar que a sua personagem, Aunty Entity, já tinha sido uma heroína antes de virar a tirana que Max tem de derrotar.

 

Tal como tudo o que toca a este filme, foi um papel icónico para a cantora que pontualmente participou no cinema. E ainda bem, porque deu-lhe uma personalidade sem igual!

 

 

  • Crossroads /Destinos (2002)

 

 

 

Confesso: este era previsível! Tentei evitar os musicais, ou filmes que estivessem minimamente relacionados com música. Mas não consegui evitar falar em Crossroads, ou Destinos, como chamaram cá por Portugal.

 

A protagonista é uma jovem Britney Spears que quer encontrar a mãe que há muito a abandonou. E, para dar o mote à aventura, nada como uma roadtrip pelo país, com as suas melhores amigas, no carro de um estranho!

 

É claro que o seu sonho envolve ser uma conhecida cantora e compositora, e que é a música que vai salvar as protagonistas de alguns desentendimentos. Mas é a Britney Spears! E se bem que estávamos mais ou menos à espera de a ver num papel do género, é sempre uma revelação perceber que foi mesmo convidada.

 

 

  • O Aviador (2004)

 

 

 

Como o anterior, este é uma pequena batota: a estrela em questão não é protagonista, nem tem um papel de extrema importância. Mas a verdade é que fiquei surpreendida quando descobri que tinha feito uma perninha como atriz, porque não estava mesmo a ver acontecer.

 

Falo de Gwen Stefani, a voz de Hollaback Girl e eterna vocalista da banda No Doubt.

 

Martin Scorsese achou que a cantora seria ideal para o papel de Jean Harlow no biopic sobre Howard Hughes, um dos homens mais ricos do mundo e com atividades que iam de aviador a produtor de cinema.

 

Ao que parece, Stefani declarou que achou que representar era muito mais difícil do que cantar, o que me deixa feliz: só mostra como cada um é para o que nasce.

 

Não significa que Stefani não tenha estado bem. Mas a verdade é que demonstra que sabe admitir que, por vezes, fazer mais do que aquilo a que estamos habituados pode dar trabalho. E podemos nem sempre estar talhados para tal.

 

 

  • Era Uma Vez no México (2003)

 

 

 

Terminamos em beleza, com um clássico mexicano repleto de estrelas: Antonio Banderas, Salma Hayek, Johnny Depp, Danny Trejo, Eva Mendes e... Enrique Iglesias, o galã espanhol que deu cartas em todo o mundo com a sua voz de rouxinol.

 

A voz de rouxinol é discutível, claro, mas o que não podemos discutir é que a sua participação em Era Uma Vez no México deixou lembranças.

 

Boas, más... Digamos que Iglesias talvez devesse aprender alguma coisa com Gwen Stefani, e perceber que não fomos feitos para fazer tudo. Há que escolher, e talvez o melhor seja mesmo cingir-se à música.

 

EXTRA: lembram-se de Nick Carter, um dos membros da (fantástica) boysband Backstreet Boys? Dead 7 (o filme criado pelo próprio onde membros de boysband são a nossa única esperança contra uma horda de zombies) não foi a sua primeira incursão no cinema. O eterno cantor teve uma ligeira participação em Eduardo Mãos de Tesoura, de Tim Burton.

 

 

O créditos não foram dados, mas aquela cabeleira loura não engana ninguém!

Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos (2016) - a opinião dos jogadores

14.06.16 | Maria Juana

Não sei se já repararam, mas eu não sou jogadora. Gosto de jogar PlayStation, sim, mas fora uma ou outra partida de Tekken 3 ou Mortal Kombat com teclas ao calhas, fujo disso. Mas o destino quis que me rodeasse de fãs de World of Warcraft, League of Legends e que tais jogos de estratégia online; daqueles que vemos na internet, com pessoal a gozar porque não podem ser postos na pausa.

 

Achei então digno que a crítica a Warcraft: O Primeiro Encontro Entre Dois Mundos fosse escrito por alguém que conhece o jogo e é fã do universo. Mais do que a opinião sobre o filme, achei que o importante era saber se os gamers vão ou não ficar desiludidos.

 

Nada como pedir ajuda à Raquel, que não só recentemente foi introduzida nas artes de jogar WoW, como escreve lindamente. Por isso, se forem gamers e estiverem indecisos, ou se querem saber se vale a pena ir ver mesmo sem nunca terem ligado o PC para jogar (o meu namorado está a tentar convencer-me de que sim, “eu ainda te vou obrigar a ver isto”), fiquem com as suas palavras.

 

Confesso que fiquei curiosa...


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Para alguém como eu que só começou a jogar World of Warcraft recentemente e que ainda tem muito que aprender sobre a história (ou Lore, em linguagem gamer) não estava com as expectativas em alta para ver Warcraft: o Primeiro Encontro de Dois Mundos. Mas fui na mesma, e garanto-vos: não me desiludi.

 

 

Tal como o título indica, o filme retrata o primeiro encontro entre os Orcs e os Humanos, quando os primeiros abrem um portal para Azeroth, o planeta dos segundos, com o objetivo de conquista. Porém, nem todos partilham desse desejo: Durotan, um dos chefes dos clãs Orc, quer apenas encontrar um novo lar para a sua família e tribo. Mas o que começa com boas intenções acaba por culminar antes uma luta entre raças, e dar origem a grupos rivais: a Horde e a Aliança.

 

Para quem tenha curiosidade em ver o filme, mas não tenha qualquer background, que não se preocupe. Tirando um ou dois pontos, todo o desenrolar de eventos está bem explicado - de tal forma que se torna bastante difícil escolher um lado, porque a equipa de argumento consegue colocar dúvidas na cabeça do espectador sobre quem está certo ou errado. Se o nosso mundo fosse destruído, não tentariamos procurar um novo lar como os Orcs? E se, por outro lado, atacassem o nosso mundo, não o iríamos defender com unhas e dentes contra os opressores?

 

 

A par de uma acção que prende desde o primeiro minuto, estão efeitos visuais no mínimo muito bons. Desde o hipogrifo montado pelo comandante dos humanos, Anduin Lothar, às terras fielmente inspiradas no jogo, a caracterização dos Orcs, Elfos e Draenai e, claro, os feitiços e movimentos fluidos lançados pelo guardião Medivh e pelo seu aprendiz Khadgar (aqui bem mais trapalhão do que na Lore), compõem um filme que certamente abriu o apetite para os próximos capítulos.

 

Raquel

Trailer da Semana – Swiss Army Man

06.06.16 | Maria Juana

Daniel Radcliffe pode ter ficado conhecido como o eterno Harry Potter – é impossível não associarmos o seu nome ao conhecido feiticeiro de óculos redondos e cicatriz na testa. E se bem que já tem feito outros papéis (inclusive uma peça de teatro mais controversa), talvez exista um em que dificilmente o imaginaríamos: um cadáver com flatulência! É improvável... e precisamente o que acontece em Swiss Army Man!

 

 

Este não é um trailer qualquer. Mas também, não é um filme qualquer. É um filme sobre Hank (Paul Dano), um rapaz preso numa ilha e que rapidamente perde a esperança de regressar a casa. Até que um dia, dá à costa um cadáver chamado Manny, de quem se torna amigo. Sim, amigo.

 

E mais do que amigo, Manny (adivinharam, Radcliffe) passa a ser a sua forma de chegar a casa  - principalmente quando descobre que os problemas de flatulência do seu novo amigo podem ter truques... explosivos.

 

No novo trailer, os realizadores Dan Kwan e Daniels Scheinert (mais conhecidos como DANIELS) pegam em algumas das cenas e mostram-nos todas as suas especialidades.

 

 

 

Já muita tinta correu sobre Swiss Army Man, e por muito estranho que pareça, até não tem sido muito crítica. Todos dizem que é extremamente cómico e que toca no sobrenatural e poder do amor.

 

Bem, um cadáver com intestinos barulhentos já seria talvez estranho o suficiente para se tornar cómico, mas parece que a própria ação tem uma leveza que nos transporta pelo filme sem nos darmos conta da sua estranheza.

 

Sim, estou curiosa. Sim, eu quero ver Swiss Army Man, mesmo com toda a sua estranheza. Não faço ideia do que aí vem, mas o início de julho promete as suas gargalhadas. Já vi coisas piores no cinema...

 

Drive In #16 - Pacific Rim

02.06.16 | Maria Juana

Temos falado bastante aqui no Pipocas em remakes e sequelas. Não, não temos nenhum pet peeve: acontece que, atualmente, parece ser essa a tendência de Hollywood: super heróis e remakes. Alguns são bons, sim, mas a maior parte faz-nos sofrer de um caso agudo de vergonha alheia.

 

Hoje não vos vou falar nem de super heróis nem de remakes, e até vou deixar as sequelas em paz. O foco deste Drive In é numa outra categoria: filmes baseados em coisas. Sejam livros (LINK BOOK THIEF), jogos de computador (como o muito aguardado Warcraft, que estreia para a semana, dia 9), histórias verídicas ou lendas, há muito por onde pegar para levar ideias à grande tela.

 

Este domingo, a RTP premiou os seus telespectadores com um desses filmes: Pacific Rim.

 

 

Vou ser honesta: não fazia ideia de que se tratava o filme. Lembro-me vagamente de ter estado relativamente na moda há uns anos, e de ter feito uma nota mental para o ver mais tarde. Depois dos minutos iniciais, não conseguia afastar a ideia de que já tinha visto aquilo em algum lado. Havia qualquer coisa de familiar… mas não era possível, eu nunca tinha visto o filme! E, de repente, fez-se luz: o que eu estava a ver na minha pequena TV era em tudo igual a um anime que eu adorara na minha juventude: NGE - Neon Genesis Evangelion.

 

 

A partir do momento em que a lâmpada se acendeu por cima da minha cabeça, comecei a ver as semelhanças em todo o lado. Em Pacific Rim, houve um acontecimento que criou uma Brecha, da qual surgiram os Kaiju, seres alienígenas que tinham como objetivo a destruição e eventual colonização do planeta Terra. Para os combater, os governos criaram o programa Jaeger: máquinas todas xpto - estilo aquela que os Power Rangers criavam para as grandes batalhas - pilotadas por humanos, que começaram a aniquilar as tais criaturas. Até a situação dar para o torto, morrerem algumas pessoas importantes, mas acabar em bem, num final que deixa praticamente tudo em aberto.

 

Agora vejamos...Em NGE houve um cataclismo mundial, conhecido como Segundo Impacto. Os civis acham que foi um meteoro, mas na verdade foi a chegada do primeiro Angel, um ser alienígena, à Terra - acontecimento previsto nos Papiros do Mar Morto. 15 anos depois, uma organização de nome NERV cria os Evangelions: uma máquina, também estilo Transformer, que devia ser pilotada por jovens humanos. Essas máquinas começam a lutar contra os Angels, vencendo a maior parte das vezes. Até a situação dar para o torto, morrerem algumas pessoas importantes, mas acabar em bem, num final que deixa praticamente tudo em aberto.

 

Como podem ver, as histórias não têm nada a ver. Nem sequer um pormenor.

 

Não pude deixar de ficar desiludida. NGE teve um final péssimo comparado com o resto da série, já que o estúdio ficou subitamente na penúria. Ora, Pacific Rim teve um orçamento de 190 milhões de dólares e Guillermo del Toro a comandar as tropas, portanto, não é essa a desculpa para interpretações fraquinhas (até Idris Elba deixou a desejar…), nem para haver a enorme falha de não explorarem melhor a relação entre Mako e Becket que, oscilava entre awkward (como entre Shinji e Rey em NGE), “ah e tal não nos conhecemos bem”, e “somos super amigos, vem pilotar o Mark 3 comigo e derrotar os mauzões!”.

 

 

A justificação para isso? O próprio del Toro disse que não é uma história de amor no sentido convencional, uma vez que tanto Mako e Becket são dois seres humanos atormentados, presos ao passado e às suas memórias - mas é a ligação que formam ao pilotar a máquina que os faz desabrochar e ultrapassar os traumas.

 

Hum, curioso. Sabem, é que em NGE, Shinji é um miúdo que não se consegue relacionar com as pessoas, um bocadinho atormentado, mas que, no final, graças a uma ajudinha dos outros pilotos, acaba por ultrapassar os seus traumas, a humanidade fica a salvo, e ele consegue finalmente dar sentido à sua existência e relacionar-se com os outros. Mais uma vez, nada a ver.

 

 

 O meu grande problema com Pacific Rim é que não só é altamente mediano, estilo filme de TVI de sábado à tarde (ou de RTP de domingo à noite!), mas também é um rip off total de uma boa história, à qual podiam ter dado algum crédito ou fazer menção.

 

E eu sei que disse que não vos ia falar de sequelas, mas sabem que mais? Foi anunciado, já em 2014, que Pacific Rim terá continuação: o nome provisório é Maelstrom mas, felizmente, ainda não se sabe quando chegará à grande tela.

 

Mais uns tempos para respirarmos de alívio...e quiçá, revermos a história original em Neon Genesis Evangelion.

 

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Livros que deram filme - A Rapariga Que Roubava Livros

01.06.16 | Maria Juana

“Here is a small fact: you are going to die.

Does this worry you? I urge you – don’t be afraid. I’m nothing if not fair.”

 

São palavras da própria Morte. E não temos como negá-las: mais cedo ou mais tarde, também nos vai tocar a nós. São as suas palavras, e a nossa certeza.

 

É a Morte que narra um dos livros mais bonitos a chegar-me às mãos. Estranho? Talvez, sobretudo porque a ação se passa numa das épocas em que esteve mais atarefada: Alemanha, II Guerra Mundial.

 

Mas comecemos pelo início. Para os que não conhecem, A Rapariga Que Roubava Livros, de Markus Zusak, é um livro de 2007 que conta a história de Liesel, uma criança de nove anos cujos pais são enviados para um campo de concentração. De modo a que fique a salvo, a rapariga é entregue a uma família de acolhimento numa província alemã.

 

 

 

Liesel ganha o hábito de roubar livros que encontra, e é a Morte que nos conta tudo o que se passa na sua vida, e na dos que a rodeiam, no intervalo das três vezes que a visita.

 

Enquanto livro, digo sem qualquer dúvida que é dos meus preferidos. Bem escrito e cativante, transporta-nos para Himmel Street de tal forma que não queremos pousá-lo. E tendo em conta a época em que tem lugar e a poderosa história que conta, rapidamente se tornou um dos livros do meu coração.

 

Avancemos então seis anos, até 2013, quando estreia nas salas de cinema a adaptação de um dos livros de culto do momento. Pela mão de Brian Percival (com uma curta carreira nas longas metragens) e com argumento de Michael Petroni (que já tinha no CV a adaptação de um dos filme d’As Crónicas de Nárnia), chega-nos um filme protagonizado por Geoffrey Rush, Emily Watson e a estreante Sophie Nélisse.

 

 

A história mantem-se: Liesel é acolhida por uma família, enquanto muda a sua vida. Sem saber ler ou escrever quando chega a Himmel Street, não deixa de guardar com carinhos os livros que encontra, e que por algum motivo a chamam.

 

São as letras, as palavras, que vão depois marcar a sua relação com Hans, o pai adotivo que se torna um verdadeiro companheiro. É ele que alimenta o gosto pelas histórias, pelas ligações que são feitas letra a letra, e por todas as conversas que podem daí vir. E é aqui que Liesel ganha o gosto de ler.

 

É claro que muito acontece, e que as reviravoltas vão chegando. Mas o que parece tão natural em livro, no cinema perde presença e valor.

 

Lembro-me de chegar ao cinema cheia de expectativa. Tinha lido o livro há pouco tempo, e estava a gostar cada vez mais a cada página. A história levava-me a outros tempos e mundos, e esperava que o filme me transportasse diretamente para os espaços que lia descritos com tanta paixão.

 

Foi com alguma tristeza que sai e notei que faltava essa mesma paixão, e que aquilo pelo qual me tinha apaixonado parecia estar pela metade.

 

 

Nem todos os livros conseguem sem bem adaptados. Nem todas as histórias, que fluem tão bem através de palavras, encontram o mesmo equilíbrio na imagem. Nem todas as personagens ganham a mesma força quando interpretadas.

 

A responsabilidade será de alguém? Para mim, não. Para mim, histórias como a de A Rapariga Que Roubava Livros podiam ser adaptadas pelos maiores génios do Cinema e, mesmo assim, nunca teriam a mesma intensidade e poder.

 

Existem momentos em que as palavras transcendem a imagem, e este é um destes exemplos. Não deixa de ser um filme competente, com ótimos atores e a mesma atmosfera que nos foi descrita por Zuzak, mas há coisas que não há como combater.

 

A Rapariga Que Roubava Livros continua a ser um dos meus livros do coração. O filme, ao contrário de outras adaptações, nem tanto - mas não lhe tiro valor por isso. Louvo o esforço daqueles que tentaram mostrar ao mundo a vida de Liesel, e a sua relação com a Morte. E louvo Zuzak pela história que criou.

 

"How do you tell if something’s alive?
You check for breathing”