Pulp Fiction e o génio de Quentin Tarantino
Se há pessoa que mais diverge opiniões no mundo do Cinema, é Quentin Tarantino: há aqueles que o adoram, aqueles que não o acham nada de extraordinário, e ainda os que não suportam ver nem sequer uma cena escrita ou filmada por ele.
Eu teimo em ficar no primeiro grupo, e lembro-me bem porquê. Já lá vão os anos em que assisti pela primeira vez a Pulp Fiction, uma das obras do mestre, e cujo aniversário é celebrado aqui no espaço, não fosse ter estreado pela primeira vez em maio de 1994.
Com um misto de incredulidade e espanto, assisti a cada cena pensando que só alguém muito certo daquilo que quer e das suas capacidades conseguiria fazer com que tal exemplo de loucura resultasse. No meio da confusão, dos tiros, sangue e monólogos quase intermináveis, ele consegue que a história faça sentido.
Há muitos realizadores e argumentistas loucos por aí (basta pensarmos em Assassinos Natos, o clássico de Oliver Stone também de 1994), mas poucos são aqueles cujo estilo tem marcado de tal forma o Cinema, que em uma ou duas cenas sabemos logo de quem se trata.
Mas Tarantino, e em especial, o seu Pulp Fiction, conseguem ir um pouco mais além: uma simples imagem ou acorde de uma música dirigem-nos de imediato para aquele universo, em que personagens cheias de carisma e com muitas balas preenchem o cenário.
Sou suspeita - acho que foi com Pulp Fiction que percebi que o Cinema tinha uma dimensão muito maior do que apenas contar uma história; afinal, as histórias são feitas também de rasgos de genialidade e um pouco de loucura. Como loucura é o que não falta neste filmes (e nos restantes de Tarantino), afirmo com toda a certeza que este é um exemplo de como o Cinema pode ser uma arte tão complexa quanto qualquer pintura mais complicada de percecionar.
Encontrei em Pulp Fiction uma nova forma de ver e perceber o Cinema. É confuso mas faz sentido; é maníaco mas saudável; é um monólogo repleto de sabedoria e, ao mesmo tempo, um silêncio perturbador. Não são histórias filosóficas, que nos fazem pensar e meditar. Mas vai além do entretenimento quando um génio consegue pegar em tantas coisas diferentes, e conseguir que façam sentido.
Desde Pulp Fiction que fiquei fã de Tarantino. Mais do que da sua criatividade, foi a sua coragem de conseguir fazer o que poucos tentam, e mesmo assim ter sucesso, que me cativou. Lembro-me de ver Sacanas Sem Lei no cinema e de pensar nos tomates bem grandes que uma pessoa tem de ter para rescrever a história esta forma. Mais tarde, em Django Libertado, encontrei o génio cómico e disruptivo que por vezes se perde.
A cada novo filme, Tarantino dá-nos um pouco mais da sua loucura. Confesso que Os Oito Odiados não foi, de longe, o meu predileto, ou aquele em que mais reconheci o trabalho dele. Mas ele está lá, como em todas as suas criações.
E nós agradecemos por isso. Há uma aura em cada filme que transpira Tarantino. E é essa aura que continuamos a venerar.
Now, if you'll excuse me, I'm going to go home and have a heart attack.