Hoje celebra-se, um pouco por todo o mundo, o aniversário da morte de William Shakespeare. O ano era 1616, o dia, é claro, 23 de abril, e o local Stratford-upon-Avon, a pitoresca vila a uma hora e meia de Londres, no coração campestre de Inglaterra, onde o poeta nasceu e veio também a morrer.
Contudo, a causa do falecimento ficará para sempre por averiguar. Homicídio, talvez? Peste negra, ou qualquer praga do século XVII? Nada disso: um vigário, 50 anos depois da morte do escritor, escreveu no seu diário que se lembrava distintamente de o ver nos copos com os amigos, precisamente na noite antes de falecer - sendo que o motivo para tão bem sucedido poeta atravessar o véu para o outro mundo tinha sido uma suposta febre que contraiu nessa mesma noite.
Tendo em conta a época em que o escritor viveu, é possível e provável que tenha ocorrido desta forma...mas nunca saberemos com certeza. Temos de considerar a hipótese de o vigário também ter vindo dos copos quando escreveu isto.
E embora seja importante a maneira como morreu, com apenas 52 anos (deixando duas filhas e a mulher, ANNE HATHAWAY - e não, não estou a gozar!), é ainda mais importante aquilo que Shakespeare nos deixou, e que ainda hoje nos acompanha: em 25 anos de atividade, criou 38 peças teatrais, 154 sonetos e 2 longos poemas narrativos que o levaram a ser considerado o maior escritor de língua inglesa de todos os tempos. Romeu e Julieta, King Lear, Macbeth e Hamlet são apenas algumas das obras primas que ainda hoje celebramos nos palcos e na tela.
E já que (com muita pena nossa!) não podemos estar em Stratford-upon-Avon para as milhentas celebrações - que incluem o evento Shakespeare Live!, paradas, fogos de artifício, teatro de rua, concertos e representações das cenas das peças mais icónicas por nomes como Judy Dench, Helen Mirren, Ian McKellen e Benedict Cumberbatch - vamos prestar homenagem à nossa maneira, com o top 5 das nossas adaptações favoritas das obras de Shakespeare!
1 - A PAIXÃO DE SHAKESPEARE
Este filme podia nunca ter visto a luz do dia por culpa de Julia Roberts! Quando, em 1991, o argumento lhe chegou às mãos, a atriz estava super interessada em interpretar o papel principal. Contudo, não aceitava nenhum outro leading man excepto Daniel Day-Lewis - que não podia estar menos interessado. A seis semanas de começar a produção do filme e sem ser capaz de o convencer a participar, a Julinha disse bye felicia!, deixou o realizador Edward Zwick na mão, e o filme acabou por ir para a prateleira durante uns tempos. Quando finalmente Zwick conseguiu que a produtora Miramar se interessasse em levar o projeto para a frente, o pobre do homem voltou a levar com os pés: a companhia queria John Madden como realizador. Por outras palavras: friendzone cinematográfica.
E foi assim que, finalmente, A Paixão de Shakespeare nasceu e se tornou no filme que mais vezes (re)vimos em toda a nossa vida. A história de amor imaginária e impossível entre Viola de Lesseps (Gwyneth Paltrow) e William Shakespeare (Joseph Fiennes), transporta-nos para a Inglaterra do século XVII com magia e bom humor - e a expressão "who knows? It's a mystery!", utilizada por Philip Henslowe (Geoffrey Rush), tornou-se uma que usamos constantemente. A Paixão de Shakespeare, venceu não um, não dois, mas sete Óscares da Academia em 1998, incluindo Melhor Filme e Melhor Atriz.
2 - MUCH ADO ABOUT NOTHING
Kenneth Branagh não só foi um excelente Gilderoy Lockhart, como também nos trouxe Chris Hemsworth de tronco nu em Thor - e só por isso tem todo o crédito do mundo. Mas a verdade é que o ator, realizador e produtor irlandês é conhecido e consagrado pelas suas adaptações de Shakespeare ao cinema. Much Ado About Nothing junta num só filme alguns dos meus atores favoritos: Emma Thompson, Robert Sean Leonard, Michael Keaton, uma jovem Kate Beckinsale, o próprio Kenneth Branagh e ainda os americanos Denzel Washington e Keanu Reeves - casting que, honestamente, nunca percebemos.
Porém, tornou o filme mais interessante, e a crítica achou o mesmo. E não tinha como não achar: é mais do que óbvia a paixão de Kenneth Branagh pela obra, e a sua adaptação, no mínimo, entusiasta, traz uma alegria e bom humor contagiantes. O irlandês acabou até por ser nomeado para a Palme D'Or, no Festival de Cannes, em 1993, e o London Film Critics' Circle entregou-lhe o prémio de Produtor do Ano.
Much Ado About Nothing é um dos mais bem sucedidos filmes de Shakespeare e, sem dúvida, um dos nossos filmes favoritos de todos os tempos.
3 - ANONYMOUS
Em 1989, o argumentista John Orloff (Band Of Brothers, A Mighty Heart) viu um documentário sobre o debate da verdadeira autoria de certos textos de Shakespeare. Inspirado, escreveu um primeiro rascunho deste filme no final da década seguinte, mas que nunca foi em frente: era A Paixão de Shakespeare que estava a dar que falar na altura. 15 anos depois, houve mais uma oportunidade de levar o filme avante, pela mão do realizador Roland Emmerich. Mais uma vez surgiram obstáculos, desta vez financeiros, e o projeto tornou a estagnar.
Mas Emmerich não desistiu: nos anos seguintes, ocupou-se com filmes mais comerciais, que gerassem lucro suficiente para lhe permitir construir o filme exatamente da maneira que tinha imaginado, com os atores que queria, sem a pressão de uma grande produtora para lá incluir dois americanos da moda.
E foi assim que, finalmente, em 2011, nasceu Anonymous: apesar de não ter sido totalmente aceite pela crítica, mostra-nos uma versão diferente da história de Shakespeare. As teorias convencem? Talvez não, mas nem pensamos nisso quando estamos focados no aspeto visual incrível, que nos mantém de olhos presos ao ecrã e, em especial, na performance de Rhys Ifans como Edward de Vere.
4 - SHE'S THE MAN
Shakespeare escreveu Twelfth Night, ou What You Will, nos primeiros anos de 1600. A comédia começa com um naufrágio que separa os irmãos gémeos Viola e Sebastian. A rapariga sobrevive com a ajuda do capitão, e é também através dele que, vestindo-se de rapaz, arranja maneira de trabalhar para o Duque Orsino, por quem se apaixona. Mas o Duque está enamorado da Condessa Olivia que, por sua vez, assim que vê Viola, fica perdida de amores pelo "rapaz".
Foi nesta obra que o realizador as argumentistas Karen McCullah Lutz e Kirsten Smith se inspiraram para escrever She's The Man, um chick flick da saga Amanda Bynes que, por muito que digamos que já não gostamos, revemos sempre que dá na televisão. A ela juntaram-se um jovem Channing Tatum (acabado de sair do clube de strip), Laura Ramsey e Vinnie Jones, e criaram uma hora e pouco de comédia romântica, piadas fraquinhas e a nova trend de usar um tampão para estancar hemorragias nasais.
Bons filmes são aqueles que geram tendências, certo?....Certo?
5 - ROMEU + JULIET
É, sem dúvida, a peça mais famosa de Shakespeare e, provavelmente, a mais adaptada - mas foi esta versão de Baz Luhrmann, que criou alvoroço. Depois do sucesso do seu Strictly Ballroom, o realizador quis pegar numa das obras mais conhecidas do poeta e fazê-la como Will a faria: nas suas palavras, um filme filme.
Não sabemos ao certo o que isso significa, mas a verdade é que a Fox deve ter percebido, porque lhe deu uns trocos e enviou-o para Sidney para fazer um workshop e filmar algumas cenas, só para ver no que dava. Leonardo DiCaprio queria tanto participar que concordou em pagar o seu próprio voo e hospedagem na cidade australiana. E assim que a produtora viu as imagens da cena da luta, voltou-se para Baz Luhrmann e disse: 'take my money'.
E ainda bem! O realizador misturou os diálogos da pela original com uma abordagem moderna, em que Capuletos e Montagues são mafiosos, e espadas são revólveres. O resultado? Um filme, para nós, inesquecível, não só pelo aspeto visual que faz lembrar uma má rave, mas também pelo baby Dicaprio e a baby Danes (quem a vê em Homeland nem a reconhece!), que conseguem tornar a tragédia mais famosa do mundo numa coisa...vá, fofinha.