Drive In #11 - 10 Coisas Que Odeio Em Ti
Lembram-se de 1999? A população mundial ultrapassou os seis milhões, a Barbie celebrou o seu quadragésimo aniversário, nasceu o Bluetooth e o MySpace, a primeira volta ao mundo em balão é finalmente bem sucedida e Lance Armstrong ganhou a sua primeira Tour de France. Tudo acontecimentos importantes, sem dúvida… mas nenhum deles bate o lançamento de um dos teen movies mais icónicos dos anos ‘90: 10 Coisas Que Odeio Em Ti.
E, por acaso, faz 17 anos que esta obra, que marcou a nossa pré-adolescência, foi lançada nos Estados Unidos. É ou não é motivo para lhe dedicar um Drive In?
O filme foi livremente (e não digo isto à toa!) adaptado de uma peça de Shakespeare, The Taming of the Shrew. As referências ao velho Will estão por todo o lado: o apelido das manas Katherina e Bianca diz respeito a Startford-Upon-Avon, a cidade que viu o poeta nascer - e os seus nomes próprios correspondem aos da peça original. Já Padua, o liceu, é a cidade onde The Taming of the Shrew se desenrola. E Verona, o último nome do personagem de Ledger, é o local que viu o amor de Romeu e Julieta tornar-se imortal. Não dá para dizer que estas argumentistas não foram subtis.
E, por acaso, também foram espertas: inicialmente, o argumento era um pouco mórbido, com referências a tentativas de suicídio de uma personagem secundária mas, felizmente, deram a volta à coisa e decidiram por uma versão mais ligeira e com um moço jeitoso no papel principal.
Tanto Josh Harnett como Ashton Kutcher fizeram audições, mas foi Heath Ledger, com aquele cabelo ondulado e o sorriso sexy, que acabou por se tornar Patrick Verona (e a minha primeira crush cinematográfica a sério. Não consegui resistir ao swag tão típico de 1999). Patrick chega ao liceu de Padua com fama de bad boy - que, como toda a gente sabe, é simplesmente irresistível -, e rapidamente ganha a admiração de toda a gente...excepto Kat.
Kat Stratford - interpretada na perfeição por Julia Stiles - é finalista, uma miúda super independente, que diz o que pensa, não faz nada só porque os outros fazem, e não está minimamente interessada no sexo oposto. É o completo oposto da irmã mais nova, Bianca (Larisa Oleynik), que só quer sair debaixo do tecto opressor do pai, arranjar namorado e perder a virgindade no dia do baile de finalistas. Também um muito jovem Joseph Gordon-Levitt aparece nesta novela como Cameron, o nerd perdidamente apaixonado por Bianca, e que não tarda em pedir umas dicas sobre ninas a Patrick.
Eu sei que não preciso de vos contar o resto da história, porque qualquer filho dos ‘90 que se preze, viu este filme 10 vezes. Pelo menos! Mas não posso deixar de referir aquela cena que nos fez deitar uma lágrima: a leitura do poema.
Sabiam que só foi preciso um take? E que as lágrimas de Julia Stiles, que fizeram o nosso coraçãozinho de adolescentes ficar apertado com o sofrimento da piquena (e desejando ardentemente que alguém nos escrevesse um poema assim!), não foram planeadas? Aquilo é emoção pura! Não é disso que são feitos os bons filmes?
Já tivemos esta conversa: não é preciso ser de um realizador conhecido, ter o ator do momento ou ser a treta mais deep que vimos nos últimos tempos, para ser um filme bom e que nos marca. Este é daqueles que, mesmo depois de o ver meia dúzias de vezes na TV, gravar a minha VHS (era uma cena que se fazia no meu tempo, okay?), e gastá-la até a fita se autodestruir...ainda hoje me faz sorrir.
“How do I loathe thee? Let me count the ways.”
De Lorean