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Fui ao Cinema... E não comi pipocas!

As aventuras e desventuras de uma miúda que se alimenta de histórias cinematográficas.

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As aventuras e desventuras de uma miúda que se alimenta de histórias cinematográficas.

Quarto (2015), uma ode ao Cinema, e à liberdade

09.03.16 | Maria Juana

Sinopse: Joy (Brie Larson) tinha 17 anos quando foi raptada por um homem a que chama Old Nick (Sean Bridgers), ficando fechada num pequeno quarto, onde a única ligação com o exterior é uma clarabóia. Aos 19, Joy dá à luz Jack (Jacob Tremblay), cuja única coisa que conhece é aquele espaço, e a história que a mãe lhe conta: aquilo é todo o mundo. Até que têm oportunidade de escapar, e Jack tem de aprender que, afinal, o mundo é muito mais do que aquelas quatro paredes.

 

 

Começo este texto com um aviso: até ao momento em que vi Quarto, achei justa a vitória de O Caso Spotlight na última edição dos Óscares da Academia. Essa crença mudou quando passaram os 118 minutos deste filme.

 

Quando comecei a escrever este texto (que deu várias voltas e voltas num documento Word), quis responsabilizar alguém pela minha mudança de opinião. Comecei pelo argumento, depois pela realização, passei pela interpretação da dupla de protagonistas… Mas a verdade é que ainda não sei bem.

 

O que sei é que os 118 minutos de filme me arrebataram. De início não; adorei, bati palmas a todos os envolvidos, dei graças pelo Cinema independente. Mas conforme pensava sobre Quarto, e tentava escrever sobre ele, fui percebendo que me tocou de forma mais profunda do que pensava.

 

 

É claro que a história tem grande parte da “culpa”. Não nos passa pela cabeça (a nós, comuns cidadãos) o que é viver em cativeiro durante sete anos, sendo abusada sexualmente e obrigada a criar um filho dentro de quatro paredes, protegendo-o das privações que poderia sofrer e de possíveis maus-tratos. A mim, que não tenho filhos, tocou-me os esforços que esta mãe fez, e a forma peculiar (mas eficaz) que criou para que o seu filho fosse feliz: o mundo era apenas aquilo que encontrava no Quarto.

 

Mais do que uma história de esperança e sacrifício, Quarto mexeu comigo porque me permitiu relativizar a liberdade (que damos como adquirida), e o mundo que nos rodeia. A perspetiva de Jack, que nos conta a sua história na primeira pessoa, fez-me ver que o mundo é de facto um lugar imenso, cheio de coisas maravilhosas para descobrir, pessoas e locais - e que parte de nós a responsabilidade de o fazer.

 

É talvez aqui que surja a parte mais técnica do filme. Se bem que o argumento contribuiu para esta creio que a realização feita por Lenny Abrahamson foi crucial para que consigamos passar de uma sensação de clausura (que apenas sentimos no final), para a liberdade imensa. De close-ups e planos fechados, em que o Quarto nos parece gigante, passamos para panorâmicos e filmagens alargadas no momento em que Jack se consegue libertar, mostrando-nos através da lente aquilo que sentia aquela criança de cinco anos.

 

 

O melhor é que não nos sentimos sufocados no Quarto até vermos o quão gigante é o mundo, da mesma forma que Jack achava que dentro daquela cabana tinha tudo o que precisava para ser feliz, e mais tarde encontra a verdade.

 

É aqui que dou o merecido louvor a Jacob Tremblay. Com nove anos apenas, o jovem ator (já merece a distinção) consegue simultaneamente manter-se inocente, como logo de seguida cresce e mostra-se dono do mundo. Tomara vários adultos conseguirem o mesmo.

 

Tomara também alguns atores e atrizes consagrados manter o semblante de Brie Larson. Além da química inegável que existe entre a dupla (numa história tão poderosa entre mãe e filho, era quase obrigatório), Larson é tudo: é mãe, é menina, é filha, é a cativa que mantém a esperança e depois a perde, para mais tarde voltar a ganhar forças. Em 118 minutos de filme, a atriz dá-nos de tudo um pouco, e é impossível não existir compaixão e relação com a mesma.

 

 

No fundo, Quarto é uma obra-prima. Enquanto filme, tem tudo o que esperamos de uma película do género, com elementos técnicos bem conseguidos e pensados - mas é mais do que isso: é um hino à liberdade, maternidade e humanidade; é ode ao Cinema, cumprindo a missão que todos os filmes devem tentar responder, ao nos transmitir uma mensagem e nos fazer sentir algo.

 

Eu senti, e continuo a sentir. Quero descobrir o mundo, procurar novos lugares e encontrar os meus limites. Se é que eles existem…

 

De 0 a Não há palavras que o descrevam, recebe um honroso Ainda estou à procura das palavras certas.